Na peça que os finalistas da Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE), no Porto, vão levar a cena como Prova de Aptidão Profissional (PAP), estão seis alunos numa sala de aulas vazia onde há muito não se aprende nada ensinado por um professor.

Em “Inimigos de Classe”, um texto de Nigel Williams, os professores desistiram de ensinar e há um grupo de alunos barricado, à espera que lhe ensinem algo. Os estudantes chegam a pedir, gritando pela porta para o corredor da escola, que os professores que passam sem os ouvir lhes contem histórias de D. Pedro e D. Inês. “Stôr, podia-nos ensinar uma data de coisas, não podia?”

É que está é uma escola em que parece haver apenas um professor para 400 alunos e, para atenuar o tédio que daí pode resultar, os estudantes encorajam-se uns aos outros, fazendo as vezes de educadores. Originalmente situada no sul de Londres, “onde a convulsão da era pré-Tatcher era desafiada pela fúria do movimento Punk”, é aqui retratada na cidade do Porto.

Os alunos puderam, assim, manter o seu sotaque do Porto e adaptar as referências e a linguagem à sociedade local, mesmo que os seus problemas sejam ao nível europeu. “É uma poderosíssima chamada de atenção para toda a socieadade, que não tem sabido entender os problemas que se colocam aos jovens”, reflete João Paulo Costa, encenador.

A metáfora perfeita

Para quem vai dizer adeus à escola esta é, segundo o encenador, a “melhor metáfora para o que se passa em Portugal hoje em dia”, uma forma “interessante e subversiva de acabar um curso”. “Neste clima de profunda destruição de variadíssimos sistemas sociais e do ensino que se vão degradando, é irónico que os alunos tenham querido fazer este texto”, diz o também diretor artístico da ACE.

“Inimigos de Classe” tem a duração de duas horas e conta com dois elencos: um predominantemente masculino e outro feminino. Esta situação, potenciada pelo facto de o grupo ser composto por 13 alunos, teve um resultado que surpreendeu João Paulo Costa: “são dois espetáculos diferentes com a mesma encenação, o que significa que o trabalho dos atores infetou o espetáculo”.

A peça vai estar em cena no Auditório da ACE / Teatro do Bolhão, de 20 a 29 de julho, pelas 21h30 de segunda-feira a sábado, e às 16h00 no domingo. Os bilhetes custam 2,5 euros.