Com 16 anos, Francisco Souza-Urtiga iniciou-se na política e, também, na literatura. Dois anos depois, publicou o primeiro livro, “Benigno”, onde guarda a ideia que tinha dos homens de boa vontade. Hoje, é “porventura” o mais jovem romancista português, dedicando o livro à “geração fénix”, afirma o próprio. Além de estar a planear uma segunda obra, o jovem está prestes a realizar outro sonho: entrar no curso de Medicina.

Atualmente com 18 anos, a história de vida de Francisco tem já alguns capítulos escritos. O jovem, que nasceu no Marco de Canaveses em 1993, mas que vive no Porto, começou a escrever um livro em 2010. Nessa altura, com 16 anos, quis falar sobre uma realidade que conhecia. “Se com 18 anos não sei nada da vida, com 16 anos sabia muito menos. Então quis escrever sobre o que acreditava naquele momento: que as pessoas nascem boas e que só mais tarde o grau de bondade começa a diminuir”, revela.

Nasceu, então, “Benigno“, um livro que demorou quase dois anos a concluir, com algum sacrifício: “Eu preferia estar a jogar PlayStation do que estar a escrever”, admite. Aliás, só quando começou a escrever, é que o jovem se interessou pela literatura. Até então, bandas desenhadas como Calvin & Hobbes e Zits eram as suas únicas leituras, obras que Francisco Souza-Urtiga acredita que o tenham influenciado, “no tom irónico usado na escrita, por exemplo”.

Se para muitos, o facto de ter escrito um livro antes de ser um grande leitor pode chocar, este autor entende que isso lhe deu uma maior liberdade criativa. E, no último ano, Francisco Souza-Urtiga precisou de alguma disciplina para concluir a obra, com o objetivo de conseguir “congelar” a crença que tinha aos 16 anos de que os homens nascem bons.

“Geração fénix”

Apesar de não ter sido um leitor ferrenho, antes de começar a escrever, Francisco Souza-Urtiga leu algumas contra-capas de livros de autores portugueses. E a grande maioria era romances históricos. “Estava a falar-se muito pouco de Portugal e da sociedade portuguesa.” Por isso, o jovem decidiu escrever sobre algo diferente.

Escreveu a história de Lucas, um rapaz invisível. “Enveredei pelo extremismo de tirar o exterior ao Lucas, para perceber como uma pessoa ‘se safa’ só com o interior na sociedade”, explica. Sendo invisível, Lucas não se poderia deixar corromper pelas outras pessoas.

Através do livro, o autor tenta, assim, fazer uma análise à sociedade portuguesa do século XXI. E com ela, espera também mudá-la. “Todos os livros só fazem sentido se nos mudarem de alguma forma”, acredita. “Eu quis introduzir um novo conceito: a geração fénix”. E o autor explica a expressão: “Se todos se identificam com a geração à rasca e acham que o país está nas cinzas, então renasçamos das cinzas”.

É escritor e político, quer ser médico

“Benigno” está nas bancas desde maio, publicado pela Edium Editores. Para um tão jovem escritor, encontrar uma editora não foi fácil. “Na minha opinião, o setor livreiro está crónico. Há quase vinte anos que é a mesma coisa: aposta-se em quem vai ganhar um prémio literário”, lamenta.

Mas Francisco Souza – que escolheu o pseudónimo Urtiga pelas boas memórias que tem do tempo passado com os avós no campo, onde as urtigas lhe arranhavam as pernas – utilizou a idade a seu favor e apresentou-se à editora como “porventura, o mais jovem romancista português”.

Por ter apenas 18 anos, o escritor acredita, também, que conseguirá chegar mais facilmente ao público jovem. Por isso, optou por promover “Benigno” através de um booktrailer, realizado pelo grupo Audiovisionários e filmado no Porto.

Agora que “Benigno” está terminado, começa um novo capítulo na vida do romancista português. Com uma média acima de 19 valores, Francisco Souza-Urtiga espera entrar no curso de Medicina este ano. E o jovem também não abandonou o percurso político que começou com 16 anos. Depois de fazer parte do Parlamento Europeu de Jovens e de representar Portugal na 65.ª sessão internacional, na Ucrânia, ingressou numa juventude partidária.

Se lhe perguntarem qual é a sua paixão, responde: “É o mais difícil!” Por isso terá escolhido Medicina. Por isso, também, terá querido ver um livro seu publicado aos 18 anos. E Francisco Souza-Urtiga já está a pensar num novo, “ainda mais filosófico”, revela.