“Se pudéssemos preservar as nossas memórias e apresentá-las intactas daqui a cem anos aos futuros herdeiros da cidade do Porto, o que escolheríamos?”. Esta é a questão de partida d’ “A bARCA da Memória para o Ano de 2112”.

O projeto propõe-se a guardar todas as emoções e memórias dos portuenses no fundo do mar, em cápsulas herméticas, invioláveis, de material inoxidável, impermeável e não-poluente. O registo desses testemunhos constituirá um arquivo a atestar essa íntima memória coletiva que ficará à guarda da Cidade.

Postais, fotografias, músicas, gravações, discos, brinquedos, poemas, livros, peças de roupa, desenhos, pinturas, jóias de família, recortes de jornal, testamentos, registos de propriedade. A lista de objetos é interminável e só depende da imaginação e da vontade dos portuenses. As cápsulas vão ser depositadas no fundo das águas, para serem desvendadas daqui a cem anos.

A recolha vai ser feita no local junto ao rio onde está ancorada a barca, nas quatro praças da edição 2012 do Manobras no Porto e na Trindade. A partir de 25 de setembro, nas praças, e de 28 a 6 de outubro, na Trindade.

No fecho dos dez dias do Manobras no Porto, a 7 de outubro, partem quatro cortejos das diferentes praças do Manobras, que vão confluir na praça do Infante (às 16h30). No rio Douro, a barca-mãe parte da Ribeira para alto mar, juntamente com as memórias que lá serão depositadas, acompanhada por um desfile de despedida de velas, traineiras e todo o tipo de embarcações. O público pode acompanhar o cortejo a pé nas margens do Douro.

José Carretas, diretor do grupo teatral Panmixia, em entrevista ao JPN, confessa alguma “ansiedade”, mas está convencido de que os “portuenses irão participar”, apesar de saber que depende da capacidade de “divulgação do evento”.

“Neste projeto, cruzam-se várias emoções que ultrapassam a simples memória: orgulho, nostalgia, uma vaga saudade do futuro, o espírito de identidade e o desejo de perpetuação dessa mesma identidade, a transmissão dos mais velhos para mais novos a que se pode chamar também cultura, a constatação da morte e da memória que perdura para lá da morte”, afirma o diretor do grupo teatral organizador da iniciativa.

O objetivo é que daqui por cem anos, qualquer mergulhador ou equipa de mergulhadores resgatem essas memórias para a posteridade, fruto da memória coletiva do Porto e revele melhor quem somos e fomos em 2012. “Espero que o resultado deste projecto seja, no mínimo, representativo e definidor da cidade do Porto e da sua gente”, concluiu José Carretas.