“A Imprensa Portuense e os Desafios da Modernização” é o nome do livro lançado por Helena Lima, professora do departamento de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP). Nele, a autora faz uma análise detalhada do percurso de três importantes jornais do Porto: “Jornal de Notícias” (JN), “O Primeiro de Janeiro” e “O Comércio do Porto”.

“Este livro corresponde a dois capítulos da minha tese de doutoramento. Em concreto, ao estudo de caso a que me propus, que foi fazer um retrato dos jornais do Porto”, diz Helena Lima. Tendo em conta o caráter centenário destas publicações, a investigadora inclui, no estudo, uma passagem pelas origens das mesmas.

Na verdade, além da análise dos jornais em si, e do discurso de cada um, as pessoas que por eles passaram foram dos elementos mais importantes para o estudo. “Visto que a evolução do discurso não é linear, porque apanha o virar do século, também recorri a depoimentos e entrevistas com diretores, editores e colaboradores dos jornais. Mais recentemente, falei com jornalistas das décadas de 60 e 70, conhecedores dos hábitos daquelas redações”, revela a autora.

“Jornal de Notícias”, o resistente

Em “A Imprensa Portuense e os Desafios da Modernização”, Helena Lima chega a uma constatação relevante: “Um dos aspetos de que me apercebi foi que os jornais conseguiram encontrar uma dinâmica de êxito com as linhas editoriais que constituíram ao longo de um século. Aproximaram-se do público, fidelizaram-no”.

Um ponto importante da análise tem a ver com os períodos anterior e posterior ao 25 de Abril, que acabam por explicar a longevidade do “Jornal de Notícias”. “Com o 25 de Abril, o JN soube regressar ao seu estilo de proximidade com o público, através da linguagem popular e da cobertura de temas da região. Pelo contrário, ‘O Primeiro de Janeiro’ e ‘O Comércio do Porto’ não souberam lidar com a opressão política e com a ingerência nas questões editoriais”, explica Helena Lima.

Mais do que uma razão científica

Curiosamente, foi o sucesso do JN e o insucesso dos outros dois títulos, que levaram a autora a analisar o tema. “Na altura, estava ligada a”O Comércio do Porto”. Entretanto, fui para férias e, quando voltei, o ‘Comércio’ tinha fechado (2005). Aquilo mexeu comigo. Fiquei a pensar: ‘Por que é que acontece isto com o ‘Comércio’ e com o JN não?’. No fundo, foi a junção de uma razão emocional a uma razão científica”, conta.

Mas, se “O Comércio do Porto” voltasse a ser publicado nos dias de hoje, teria futuro? “O ‘Comércio’ sempre foi um jornal muito bem escrito, mais direcionado para um público conservador. Se mantivesse esse registo, hoje em dia, não resistia”, afirma Helena Lima.

O que também não resiste, cada vez mais, na imprensa, é o jornalismo local. Um exemplo é o jornal “Público”, que esta quarta-feira anunciou o encerramento da editoria “Local”. “As dinâmicas de mercado mudaram radicalmente. Hoje em dia, as lógicas das empresas são de ‘downsizing’. Assim, fazem pouca informação própria e perdem o elo com as populações”, refere Helena Lima, ao caracterizar a perspetiva atual das empresas de media.