Nuno Canavez é o responsável da Livraria Académica, que está a um mês de fazer cem anos. Diz que nos últimos tempos o seu negócio se foi “afundando” graças à revolução tecnológica, já que até os livros podem ser colocados online. “Há 30 anos, (os jovens) vinham aqui porque os professores recomendavam. Hoje, raramente vejo chegar aqui alguém a pedir um clássico. Por isso, temos o computador de um lado e a falha no ensino no outro”, desabafa.

Com mais de 40 anos de trabalho, sabe que o seu negócio não depende da crise e sim da renovação da clientela. Como acredita que as pessoas continuam a querer vender os seus livros, mantém-se otimista e acredita que o negócio vai melhorar.

Livros, roupas e mobiliário: tudo se encontra nas lojas de segunda mão

Há cinco anos e meio, Rosa Távora – ou Zareca, como é conhecida – levou a Zareca’s Story até ao Centro Comercial Bombarda (CCB). Reformada, decidiu abrir “uma lojinha, um ateliê de costura”. Inicialmente, levou para a loja peças antigas e roupas que já não lhe serviam. Com o passar do tempo, começou a aceitar roupa de outras pessoas, mas nem tudo lhe agrada.

Mesmo com a crise, Rosário diz que não tem notado uma diminuição nas vendas. Aliás, “com ou sem crise”, as pessoas vão continuar a procurar estes artigos porque “começaram a achar engraçado”, conta. A moda influencia a escolha e o preço acessível permite aos consumidores variar mais e poupar dinheiro. “No princípio havia alguma relutância mas hoje em dia estão mais habituadas a este tipo de produtos”, esclarece “Zareca”. “As pessoas pensam duas vezes se hão-de comprar uma peça nova mais cara ou uma em segunda mão mais em conta” acrescenta.

Crise não afeta o negócio, mas a evolução sim

A Lobecos ocupa cinco números da Rua do Heroísmo e já data da década de 70. António Lobo herdou o negócio e diz que este tem características muito próprias: “vive da fartura e do excesso e não da miséria já que o cliente é aquele que já não precisa das coisas”. Muitas vezes, o cliente só quer ver-se livre facilmente de artigos que já não lhe interessam. Já os que não têm poder de compra e aparecem por necessidade raramente conseguem vender o artigo, já que a qualidade da peça é normalmente mais reduzida.

Embora tenha aumentado o número de clientes na segunda situação, António Lobo garante que o negócio de compra e venda de artigos em segunda mão não é uma alternativa à crise. Concorda, aliás, que a evolução tem vindo a dificultar o negócio. “Um produto comprado hoje, se calhar amanhã está vendido a metade do preço. É prejudicial para o consumidor e para a nossa atividade é um desastre”, lamenta António Lobo.