A taxa de desemprego jovem está a atingir recordes históricos. Com este panorama, as juventudes partidárias podem ser vistas por muitos como uma solução de emprego?

Penso que os jovens não olham para as juventudes partidárias como uma forma de arranjarem emprego, porque isso efetivamente não acontece. No dia 5 de outubro, vi uma reportagem da RTP que me chocou. E essa reportagem chocou-me, em primeiro lugar, porque acho que o jornalismo que se praticou deixa muito a desejar, e estou à vontade para falar, porque a juventude partidária e o partido político que foram mais visados nessa reportagem foram a JSD e o PSD, respetivamente.

Para esclarecer os dados divulgados nessa reportagem: eram 36 jovens, contratados como adjuntos, assessores e especialistas, com menos de 30 anos, na maioria recém-licenciados e ligados a “Jotas”. A média de salário era de três mil euros. Qual a verdadeira ligação entre a política jovem e a possibilidade de futuros cargos políticos?

As pessoas que aderem de livre vontade a uma estrutura partidária vão para servir e não para se servirem. Sinceramente, em dez anos de militância na JS, praticamente só encontrei pessoas boas e altruístas. E essas pessoas que foram nomeadas para adjuntos ou especialistas, acho que não devem ser marginalizadas pela sociedade. Isto sem deixar de dizer que me preocupa a forma discricionária como são feitas algumas nomeações em Portugal. Acho que um ministro ou um secretário de Estado pode e deve ter uma equipa da sua confiança política constituída, e, se ele assim o entender, por recém-licenciados ou por cidadãos que nem sejam licenciados. O que eu acho é que deve haver limites. E a questão é que não há legislação quanto ao número de especialistas. Eu não estou a fazer a defesa política da JSD, mas acho que não podemos fazer um assassínio de caráter dessas pessoas.

JS vs PS

“Conhecendo razoavelmente bem o ambiente dentro do partido socialista, eu diria que o ambiente da JS é naturalmente mais descontraído. Mas, de uma forma geral, a ideia que as pessoas têm de que a política é uma atividade extremamente maçuda e cansativa, não tem correspondência com a realidade. A política não se faz apenas nos passos formais ou dentro das salas de reunião. Também se faz nas relações sociais que se estabelecem entre militantes de uma organização.”

A juventude não pode ser vista como uma falta de validade ou de capacidade, é isso?

Claro! Nós não podemos olhar para a juventude às segundas, quartas e sextas, como sendo inexperiente, e às terças, quintas e sábados dizermos que os jovens têm poucas oportunidades na nossa sociedade, mesmo ao nível do governo. Eu não discuto casos concretos, mas acredito que tem havido um excesso de contratações aparentemente “aparelhísticas” para o governo, mas não podemos enveredar pelos discursos mais fáceis. Eugénio de Andrade dizia que “não há caminhos fáceis para quem é responsável”. O caminho fácil aqui não é dizer: “Isto é uma vergonha, tantos jovens no governo”. Não é este o caminho certo.

O que é que jovens podem esperar ao ingressar numa juventude partidária?

Eu acho que, antes de mais, quando um jovem decide ingressar numa juventude partidária, é porque está disposto a dar um pouco de si à sociedade. Evidentemente que pode, ou não, encontrar um contexto favorável à discussão política e ao desenvolvimento das suas opiniões, mas, na minha opinião, o exercício da política é um exercício de cidadania. Quem entra numa juventude partidária deve entrar com espírito de missão, no sentido de servir a sociedade e de ajudar uma determinada organização com diversos ideais políticos.

“Faz muita falta humildade na política”

O que é que as juventudes partidárias fazem para atrair os jovens à política?

Nós temos alguns mecanismos concretos. Eu acho que a melhor forma de nós credibilizarmos uma juventude partidária é através do trabalho político e da sua visibilidade. Um exemplo concreto: se a JS, perante o atual regime de atribuição de bolsas de estudo do ensino superior, que é extremamente injusto, for capaz de formular uma proposta alternativa com responsabilidade e, portanto, não enveredando pelo discurso fácil da esquerda radical; se for capaz de encontrar uma solução alternativa que consiga por cobro a algumas das dificuldades e problemas que manifestamente este regulamento tem; se conseguir que os órgãos de comunicação social incidam sobre essa mesma proposta; e se, por intermédio disso, muitos jovens portugueses tiverem conhecimento da atividade da JS, nós estamos a conseguir reforçar a nossa credibilidade.

Recentemente, numa conferência da FEP, Marcelo Rebelo de Sousa dizia que “os maus exemplos afastam os jovens da política”. Acha que são esses maus exemplos que rotulam os partidos e os processos, que fazem com que os jovens não se queiram também rotular?

Os maus exemplos acabam por rotular a política e rotulam tanto no PSD como no PS. E faz muita falta humildade na política. Esses processos a que Marcelo Rebelo de Sousa terá aludido não são específicos de nenhum partido. Também no PS existem, ou existiram no passado, casos dos quais eu não me orgulho. Há aqui um problema de perceções e todas as generalizações são perigosas. Mas reconheço que sim, que isso afasta muito os jovens. Não deixo de ter o entendimento de que esse não é o único motivo pelo qual isso acontece. Historicamente, a participação política dos jovens tem acompanhado a história das sociedades politicamente organizadas. Hoje, fala-se mais sobre isso, porque nós também somos muito afetados. Às vezes, as ideias são tão levadas ao extremo que se perde esta capacidade de abstração. Os militantes da JS sofrem exatamente dos mesmo problemas dos jovens portugueses, sem exceção. Hoje fala-se mais sobre a atividade e intervenção dos jovens na sociedade, porque a taxa de desemprego jovem aproxima-se a passos largos dos 40%.