“Não sou daqueles que dizem: ‘Ah, não, eu não gosto de ter prémios…’. Não, nada disso. Eu gosto!”. É desta forma, e num tom bem-disposto, que Luís Filipe Costa fala ao JPN, para comentar a distinção que, esta sexta-feira, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) lhe atribuiu: o Prémio Igrejas Caeiro.

Trata-se de uma distinção que é feita pela primeira vez, em homenagem a Francisco Igrejas Caeiro, personalidade que teve um importante impacto na esfera mediática nacional. Nessa lógica, o prémio passará a ser atribuído pela SPA, a quem lhe for reconhecido uma influência significativa no mundo mediático.

Na primeira edição, a honra coube a Luís Filipe Costa, histórico jornalista da rádio portuguesa, tendo em conta as “décadas de trabalho realizado na área da informação e programação, e também o seu indiscutível contributo para a renovação da informação radiofónica”, pode ler-se no anúncio da SPA que dá conta da distinção.

Pelo facto de vir de onde vem, o prémio não podia dar mais gozo a Luís Filipe Costa: “Eu gosto de receber prémios do público, mas também gosto muito de ser reconhecido pelos meus pares”, confessa. Mas o orgulho não fica por aí: “Este prémio não é daqueles que não têm nome: ‘O melhor não sei quantos’, ‘O mais magro’, ‘O mais gordo’, ‘O mais velho’… Não. Este tem um nome. E um nome importante. Que é o do Francisco Igrejas Caeiro, que foi uma das pessoas que me ensinaram a fazer rádio”.

De economista a jornalista

Antes de se tornar jornalista, Luís Filipe Costa passou pela Faculdade de Economia, mas a coisa não correu bem: “Em Economia, fiz uma triste figura, no Instituto Superior de Ciências Económicas: ao fim de um ano e meio, desisti, porque, por exemplo, não sabia ainda bem qual era a diferença entre uma ‘obrigação’ e uma ‘ação'”, graceja Luís Filipe Costa.

Luís Filipe Costa notabilizou-se como jornalista e chefe de redação do Rádio Clube Português (RCP), a partir da década de 60, mas foi em 1974 que viveu alguns dos momentos mais intensos da carreira, e em que Francisco Igrejas Caeiro foi um amigo. “Depois do 25 de novembro, colocaram-me de férias. Achavam que eu estava um bocado cansado e então puseram-me na prateleira para eu descansar. E foi o Chico – que era como eu o tratava – que me foi tirar de lá e me deu um programa na Antena 2”.

“Mais do que merecido”

Adelino Gomes e Luís Bonixe, jornalistas e pessoas próximas de Luís Filipe Costa, partilham a opinião de que o prémio atribuído pela SPA não podia ser “mais do que merecido”. Até porque não poderia fazer-se outra coisa ao “criador do primeiro serviço de noticiários independente na rádio portuguesa, no princípio dos anos 60”.

“É uma figura absolutamente incontornável e memorável da minha vida profissional e, julgo, de todos os portugueses que ouviam rádio nesses tempos”, diz Adelino Gomes, por causa de uma razão muito simples: o segundo emprego que teve na rádio foi no RCP e o seu chefe de redação era nada mais nada menos do que Luís Filipe Costa. “Ele era um homem ao mesmo tempo distante e sempre presente. Distante, na medida em que não estava à nossa volta a dizer: ‘Faz assim, faz assado’. Mas, ao mesmo tempo, sempre presente, porque os noticiários dele eram os melhores e, portanto, um exemplo que nós procurávamos seguir”, conta Adelino Gomes.

Foi devido a essa qualidade que Luís Bonixe quis contar com o contributo de Luís Filipe Costa para a tese de doutoramento que escreveu sobre informação radiofónica. “Ele foi uma das pessoas que mais contribuiu para aquilo que hoje consideramos como perfeitamente natural e normal que seja o jornalismo radiofónico, mas que, na época, não era assim, e constituía uma inovação”. “Estamos a falar da simplicidade, concisão, brevidade, enfim, todos aqueles atributos que hoje reconhecemos às notícias na rádio”, refere Bonixe.