Hugo Freitas tem 25 anos e frequenta o mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) Acredita que “para melhorar o ensino, os docentes e a comunidade académica deveriam ter aconselhamento e informação correta sobre as barreiras comunicacionais e os meios para as contornar” e apela a uma urgente “sensibilização e formação para uma comunicação eficaz entre estas duas comunidades (ouvinte e surda) que coexistem no mesmo espaço”. Expressões como “surdo-mudo”, “linguagem gestual” [deve dizer-se língua gestual] e outras, são ofensivas para os surdos mas continuam a ser usadas entre a comunidade ouvinte.

Segundo o Serviço de Apoio ao Estudante com Deficiência (SAED), “é frequentemente [solicitado] o Intérprete de Língua Gestual Portuguesa em aula, no apoio tutorial ou atendimento com os Docentes e em momentos de avaliação para clarificar os conteúdos dos enunciados”, um tipo de apoio financiado pela Universidade do Porto (UP), desde 2009. Outros estudantes preferem o reforço do apoio tutorial e resumos escritos. Mas “para todos é necessário que possam ter previamente à aula o material que é trabalhado na mesma e nela exposto, porque necessitam trabalhar os conceitos e porque, enquanto se faz leitura labial ou se presta atenção ao intérprete, não é possível tirar apontamentos das aulas ou olhar para a informação que estará ser exposta e discutida, em simultâneo”.

LGP como disciplina de opção em escolas e universidades

Andreia Ribeiro estuda na Escola Superior de Educação (ESE) e queixa-se do atraso em obter um intérprete de LGP, o que está a dificultar o acompanhamento na matéria. “Os professores não se preocupam e dão pouca importância”, lamenta. A jovem defende até que a LGP deveria ser ensinada nas escolas e universidades: “acho que não fazia mal nenhum a toda a gente aprender o básico”, esclarece. Hugo concorda: “devia ser uma disciplina de opção para os alunos ouvintes”, por exemplo. Joana Cottim, formadora de LGP na Escola Secundária de Alexandre Herculano, acredita que se todos aprendessem, poderia fazer-se a diferença. “Os docentes ouvintes e surdos poderiam contribuir para a mudança e a redução da discriminação”, garante.

A SAED ainda não recebeu os dados de todas as faculdades para o corrente ano letivo, mas a UP conta, para já, com sete alunos com deficiências auditivas. 2007/2008 foi o ano letivo em que a UP teve um maior número de estudantes com deficiência auditiva: só na Faculdade de Arquitetura (FAUP), estudavam nove.

“Nunca fomos aceites pelo centro de emprego”

Mas fora da faculdade, também existem obstáculos. “A maior parte dos programas televisivos não tem legendas para Surdos, a maior parte dos funcionários de serviços públicos têm pouca vontade para comunicar quer seja por escrito ou simplesmente o pequeno esforço de perceber a expressão facial”, conta Hugo. Para Andreia, o principal problema continua a ser arranjar emprego: “nunca fomos aceites pelo centro de emprego por causa da surdez. Os surdos sabem de pintura, trabalhos ligados ao desenho, artes gráficas, mecânica, computadores. São muito bons nestas áreas, mas os patrões não aceitam por falha de comunicação”, remata.