Inês Soares é presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (AEFBAUP) e não deixa a dúvidas sobre o que pensa: “as medidas orçamentais têm sido levadas ao extremo, deixando o Ensino Público num estado crítico. Nós presenciamos casos de fome, tanto na nossa Faculdade como em toda a Universidade do Porto e isto não pode continuar. Tudo isto se está a tornar cada vez mais insustentável”, desabafa.

A estudante de Belas-Artes define os cortes como “grotescos” e garante que só vão piorar a “falta de condições”: “na minha faculdade temos três câmaras fotográficas para mais de 900 alunos e isto é só um exemplo!”, alerta. Diz que vai continuar a luta “para que as propinas diminuam e para que, posteriormente, esse conceito de que temos de pagar o ensino também acabe” e chama todos os estudantes a lutar com ela: no dia 22, “nenhum estudante fica em terra”, garante.

“Daqui a três anos a ESMAE não existe”

Nuno Reis Pereira é vice-Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (AEFAUP), e concorda com Inês no aspeto do financiamento. Já Tiago Batista, presidente da AE da Escola Superior de Música e Artes de Espetáculo (AEESMAE) vai mais longe: caso o Orçamento de Estado seja aprovado, “daqui a três anos a Escola não existe”, afirma. “O corte vai ser quase de meio milhão. Esta é uma escola principalmente de Música, é um ensino muito caro e com aulas individuais”, explica. Quanto a dia 22 de novembro, a AEESMAE diz que estão a tentar angariar fundos para levar os alunos a Lisboa.

Andrea Sousa, vice-presidente da AE da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (AEFDUP) explica que a decisão de subscrever a manifestação foi acordada numa “Reunião Geral do Aluno (RGA)”, por razões semelhantes: “imensas bolsas este ano foram recusadas, vemos cada vez mais alunos a desistir da faculdade a meio do semestre por questões financeiras”, sustenta. A estudante diz que se existirem muitos alunos interessados em ir a Lisboa, “serão disponibilizados autocarros”. Se os números forem mais reduzidos, a solução é simples: os estudantes de direito “partilharão transporte com outra faculdade”.

“Os estudantes não são imunes a terem os pais desempregados”

“Os estudantes não são imunes aos cortes na saúde e na segurança social. Não são imunes a terem os pais desempregados ou despedidos, com subsídios de desemprego que vão reduzindo. Portanto os estudantes têm também uma palavra a dizer em relação a isso”, garante Maria João Antunes, presidente da AE da Escola Superior de Educação (AEESE). Mas para além das razões sociais e económicas, Maria João vai mais longe e fala ainda da “falta de apoio à investigação”. “O Ensino Superior é essencial para o desenvolvimento do país. Permite às pessoas produzirem mais, serem inovadoras e criarem coisas. Neste momento não é isto que se verifica”, explica.

Diogo Faria, presidente da AE da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP), também já tinha garantido a presença dos alunos da Faculdade de Letras na mobilização, “em nome da universidade pública e contra os ataques que a ela têm sido dirigidos”. Na altura, disse ser “lamentável que o ensino democrático exclua milhares de jovens de prosseguirem os estudos pelas propinas e ausência de ação social decente”. E sublinhou: “este é o momento para agir democraticamente em defesa dos estudantes. Não é possível esperar mais”.

“Qualquer dia o nosso país não tem estudantes”

Stephanie Oliveira não pode mesmo esperar mais. Estudante de Direito, diz-se indignada com a quantidade de despesas que tem e com a falta de compreensão dos professores: “É alimentação, são os livros, são as fotocópias… e depois há professores que dizem «não admitimos fotocópias de livros», mas se for assim, não chegam 200 euros por semestre”, explica.

Catarina Gonçalves é aluna na ESMAE e diz que estudar está cada vez mais caro, mas que não é por isso que a qualidade do ensino é maior. A estudante diz mesmo que “o ensino português é péssimo. Desde as condições básicas de funcionamento das instituições, por exemplo, à qualidade das refeições das cantinas”. A estudante viu ainda o seu pedido de bolsa recusado, razão de muitos estudantes para abandonarem o ensino superior. “Com tantos cortes nas bolsas e no passe qualquer dia o nosso país não tem estudantes!”, diz Liliana Alexandra, da ESE.

Cristiana Pais, aluna de Ciências da Comunicação, também acredita que o Ensino Superior “poderia sem dúvida estar melhor se os alunos que o frequentam fossem valorizados, se os cursos e os planos de estudo fossem revistos e fossem criadas formas de incentivar a empregabilidade dos recém-licenciados”. Mas não acredita isso de facto vá acontecer: “É mais fácil mandar-nos emigrar”, remata.

Em 14 alunos, dois tinham conhecimento da manifestação

Marta Monteiro é estudante na Universidade Portucalense e mostra-se solidária com os alunos a estudarem em universidades públicas, mas diz não acreditar que a manifestação gere mudanças reais. Também a aluna Joana Esteves, de Economia, acha “importante os alunos marcarem presença”, mas acha que “não vai dar resultado nenhum”, diz. Já Tiago Monteiro não tem dúvidas: “nunca saberemos se não tentarmos”.

O JPN falou com vários alunos das instituições cujas Associações de Estudantes aderiram à manifestação e as principais queixas foram o aumento de propinas, a ineficácia da ação social e a extinção do passe social sub-23. Ainda assim, dos 14 alunos exteriores às Associações com quem o JPN falou só dois tinham conhecimento da manifestação e só um garantiu querer marcar presença em Lisboa.