São maioritariamente jovens, normalmente raparigas e inventam que foram vítimas de crimes – muitas vezes relacionados com a liberdade pessoal ou com a autodeterminação sexual. São simulações de raptos, sequestros, ou até violações que as “vítimas” idealizam e descrevem, para chamar a atenção da família ou encobrir outros problemas – que podem ser apenas faltas às aulas, por exemplo.

O caso de Sto. Tirso

Uma jovem de 17 anos disse ter perdido os sentidos e ter sido vítima de violação, no verão do ano passado. Contou ainda que foi abandonada nua junto à estação ferroviária de Sto. Tirso e a PJ ainda ponderou ter-lhe sido administrada a “droga da violação”. Mais tarde, concluiu que a rapariga inventou a história “por problemas pessoais”.

Até ao passado mês de setembro tinham sido 32 os casos de crimes simulados. João Teixeira Lopes, sociólogo, disse ao JPN que esta é, em muitos casos, “uma tentativa de chamar a atenção”. “Estando diluídos em associações, famílias ou grupos em que a sua individualidade não é suficientemente respeitada, pode ser uma forma de reindivicar uma identidade, uma existência”, explica.

Muitas vezes, esta é apenas uma parte de um problema mais grave e estas situações “não podem ser encaradas todas de forma igual. Não podemos dizer que são todas uma farsa, um sinal de imaturidade, que devem ser todas sinalizadas e penalizadas. Devemos antes ter uma atitude prudente”, até porque, como refere o sociólogo, “antes de um suicídio que se concretiza, há muitas tentativas de chamar a atenção”. Estas situações podem vir a revelar “pessoas que estão numa situação depressiva forte e numa situação em que há falta de laços sociais”, afirma.

Depoimentos pouco coerentes confirmam, normalmente, suspeitas da polícia

A Polícia Judiciária assume sempre todas as denúncias como verdadeiras: mobiliza meios e realiza perícias. Quando chega a altura da “vítima” ser ouvida é que geralmente a polícia percebe que não houve crime, devido ao frequente discurso pouco coerente. Depois, os exames acabam por confirmá-lo.

O Ministério Público é quem decide se é ou não apresentada queixa – e aqui, é uma pena de prisão até um ano ou pena de multa que estão em causa. Ainda assim, isso pode não ser o pior: “pode haver uma perda ainda maior de auto-estima, uma estigmatização – já que passam a ser considerados como pessoas pouco fiáveis – uma retrocesso ainda maior na tentativa de construção de uma identidade positiva”, explica João Teixeira Lopes. A PJ garante, no entanto, que é prestado o apoio social devido.

Mas apesar de serem os jovens quem mais simula crimes, há também homens e mulheres de todas as idades que o fazem. Desde acidentes a carjackings, tudo pode ser simulado para burlar as seguradoras, por exemplo.