Presente em construções de norte a sul do país, a construção com terra é uma alternativa natural ao betão e ao aço. É usada há vários séculos no nosso país e há milénios no mundo inteiro. Devido às suas características e dada a sua importância a nível do património mundial, é uma área cada vez mais estudada. A sua constituição é simples: usa-se a terra e, caso necessário, um material ligante – de preferência natural.

As Técnicas de Construção com Terra

Adobe: terra misturada com um ligante natural (a cal, por exemplo) e moldada em pequenos blocos que secam ao sol, similares a tijolos.
Taipa: difere do adobe no facto de a terra ser disposta em camadas que depois são compactadas, formando uma parede.
Tabique: solução mista que usa a terra numa estrutura de madeira como suporte.
Blocos de Terra Comprimidos (BTC’s): técnica mais moderna e variação do adobe, na qual os blocos são prensados em máquinas ou de forma manual.

Humberto Varum, professor no departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (UA), acredita que a aplicação deste tipo de construção tem futuro em Portugal, principalmente na área da reabilitação de edifícios. Na Universidade de Aveiro, por exemplo, já se tornou “uma das áreas prioritárias”, e a instituição já conta com um vasto património construído com terra na região. Os trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos centram-se na caracterização e avaliação da segurança deste tipo de construção, de modo a que se atinja “um nível de segurança que seja o mais próximo possível das exigências atuais”.

Humberto diz existir “uma enorme curiosidade” por parte da população em todos os projetos feitos no país, apesar dos preconceitos sociais existentes quanto à utilização da terra na construção. Mas também a indústria da construção já revela algum interesse, embora o uso da terra seja dificultado pela falta de legislação no nosso país: “No sul de Portugal existem várias empresas que têm como atividade única a produção de Blocos de Terra Comprimida (BTC’s) para venda. Infelizmente, devido a todas as dificuldades que temos a nível regulamentar, muitos deles são exportados para Espanha”, conta.

Apesar do preconceito inicial, são inúmeras as vantagens deste tipo de construção

Para o professor, a terra “poderá ser a solução mais adequada para habitação”, no caso de construções simples e de menor envergadura, já que torna o acabamento da obra “muito mais interessante”. Mas as vantagens deste tipo de construção não se ficam por aqui. A economia e o respeito pelo ambiente são pontos a favor: a arquitetura de terra é uma ótima solução para zonas agrícolas ou protegidas, pelo “impacto mínimo em termos ecológicos”, garante.

Depois, já que a construção com terra recorre aos processos tradicionais, pode ser facilmente feita por qualquer curioso ou interessado (após uma pequena formação). Os custos, assim sendo, são praticamente nulos, já que qualquer tipo de terra pode ser usado para a construção. Em “termos acústicos e térmicos também tem inúmeras vantagens” e a emissão de CO2 libertada no processo não é significativa.

Mas nem tudo são boas notícias. A construção com terra tem algumas limitações a nível da resistência, por isso, o rigor é fundamental: tanto nos cálculos como em toda a geometria associada. Para garantir os níveis de segurança exigidos, os “esquemas de reforço devem ser adicionados quando necessário”.

Arquitetura de terra é “solução para o futuro”

A Técnica no Mundo

A Arquitetura de Terra é usada em cerca de um terço de todo o património classificado a nível mundial, cuja grande parte é considerada património em risco. Organizações como a ICOMOS dedicam-se a estudar e desenvolver soluções para a sua preservação.

Ainda assim, segundo Humberto Varum, este tipo de arquitetura pode mesmo ser considerado uma solução para o futuro. De forma económica e sustentável, pode resolver os problemas de défice de habitação em certas zonas do globo, já que seria possível “resolver os problemas do maior número de famílias, com os mesmos recursos económicos escassos”.

Em Portugal, a construção com terra já pode ser encontrada um pouco por todo o país. O adobe está mais presente na Beira Litoral, enquanto que a taipa é mais encontrada no Alentejo e Algarve, muitas vezes em conjunto com outras técnicas. O tabique é mais utilizado no Norte, como elemento principal de edifícios.