Em ano de Guimarães 2012, Daniel Pires, da direção do Maus Hábitos, faz uma avaliação à Capital da Cultura – não fosse o próprio Maus Hábitos nascido no seio de uma Capital da Cultura, quando a iniciativa chegou ao Porto. Para além disso,
também participou nas atividades deste ano, através da Associação Cultural Saco Azul.

Para Daniel, as diferenças entre os dois projetos são tão grandes como as que existem entre as duas cidades: “Guimarães tem uma dimensão rural que o Porto não tem. Apesar de ser uma cidade pequena, [o Porto] tem alguns laivos de cosmopolitismo, tem muita história… O que faz antever a existência de outras coisas que não tens à vista. Em Guimarães não, em Guimarães what you see is what you get” [o que vês é o que tens].

Dez anos depois do Porto ter albergado o título, o que restou foi a reabilitação do espaço público, principalmente na zona da baixa e a criação de espaços como a Casa da Música ou o Jardim da Cordoaria.

No Porto, “há heranças boas e há heranças muito más”

Daniel Pires, no entanto, fala de uma “alteração de fluxos da Baixa”, que perdeu a Ribeira como “espaço público, onde alguém pode sair à rua e fazer o que lhe apetece”. Beatriz Pacheco Pereira, uma das fundadoras do Fantasporto, garante que “há heranças boas e há heranças muito más”. Num aspeto, estão ambos de acordo: “Não se favoreceu a criação de emprego para artistas, não se criou nenhuma companhia de teatro ou dança”. “Nesse aspeto a capital cultural não funcionou”, afirma a escritora portuense, ao Sapo.

O diretor do Maus Hábitos acredita que o “Porto 2001 foi o último momento em que as pessoas esperaram” e, neste momento, “a massa crítica está toda a emigrar”. Por isso, agora é normal que “as pessoas que fazem acontecer alguma coisa no Porto sejam quase sempre as mesmas. Falta gente”, termina.

Algumas lições Guimarães aprendeu com o Porto: investiu na reabilitação e avançou com projetos. Agora que o ano está prestes a terminar, há que esperar para ver se o futuro os leva mais longe.