Samuel tem 22 anos e aos sete já assumia ser “uma mistura de raças”, entre a mãe portuguesa e o pai guineense. Havia sempre alguma coisa “que me fazia sentir diferente”, conta. Com a morte da mãe e muita confusão na cabeça, começou a fazer “coisas impensáveis”, de que não se orgulha. Ela era o escudo que o protegia do mundo. Depois da Academia, Samuel diz-se “mais sábio” e assim que acabar os estudos quer levar a cabo um projeto social, já com destino: Guiné-Bissau.

Graciete, mais conhecida por Grace, é de uma família cabo-verdiana. Tem 22 anos e mora num bairro “problemático” em Lisboa, o que nunca ajudou à procura de emprego ou à integração na escola. Foi um amigo que lhe apresentou a Academia, que descreveu como uma “experiência magnífica”. O sonho que acalenta, por enquanto, é “descobrir o mundo” e, acima de tudo, fazer alguma coisa por Cabo-Verde, a terra dos seus pais.

A 1.ª edição da Academia

A Academia Ubuntu foi desenvolvida enquanto projecto de educação não formal. A primeira edição foi dirigida apenas a jovens descendentes de comunidades de imigrantes, residentes em Lisboa. Aconteceu de outubro de 2010 a setembro de 2011 e incluiu, no programa, uma viagem à África do Sul. Sem ter antes existido um projeto experimental, existiram dúvidas na implementação das ideias, assim como dificuldade na mobilização dos jovens, ocupados com vidas muito diferentes. Ainda assim, o balanço foi positivo e a Academia até já deu vida a vários projetos.

Depois destes jovens, outros tantos com as suas próprias histórias podem dar um novo rumo à sua vida: a Academia Ubuntu está de volta. O projeto – alargado também ao Porto, desta vez – quer capacitar e formar jovens provenientes de contextos de exclusão social, que apresentem características de liderança, para o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo social.

Através de modelos de inspiração como Nelson Mandela, Martin Luther King, Gandhi ou Desmond Tutu, a Academia quer dar um novo rumo a estes jovens e a todos aqueles que possam posteriormente ser influenciados por eles, dentro da comunidade. O principal objetivo é que, no final da Academia, estes jovens sejam “agentes de transformação” e estejam aptos a levar a cabo os seus próprios projetos de empreendedorismo social, contribuindo para a melhoria e o apoio dos seus próprios bairros, através do espírito ubuntu.

Candidatura dos jovens deve ser “apoiada” por uma instituição local

Destinada a 80 jovens, com idades entre os 18 e os 35 anos, esta iniciativa inclui ateliers práticos, 18 seminários e debates, conferências e ainda dois fins-de-semana residenciais e temáticos – com vista à construção de laços entre os participantes – e uma viagem final, com a duração de seis dias, com visitas a vários locais. Os temas abordados vão desde a liderança à gestão financeira, passando pela comunicação, negociação ou mediação e gestão de projeto.

Ubuntu

“Ubunto” é um conceito africano que significa “acolhimento”, “respeito”, “entreajuda”, “partilha”, ou ainda “comunidade”.

Qualquer jovem das áreas do Grande Porto ou Grande Lisboa que preencha os requisitos pode candidatar-se até 30 de janeiro, mas deve ser sempre apoiado por uma instituição local, através de uma carta de recomendação. Mas a candidatura é apenas o primeiro passo. Posteriormente, haverá ainda uma entrevista pessoal e só depois disso será comunicada a admissão – ou não – na Academia.

Para não haver dúvidas, serão feitas duas sessões de esclarecimento: no Porto e em Lisboa. No norte acontece já a 25 de janeiro, às 18h, no Campus da Foz da Universidade Católica (UCP).

A Academia Ubuntu, que nasceu em 2010, é uma iniciativa do Instituto Padre António Vieira (IPAV), que contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação Oriente e do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica.