Bem conhecido dos filmes de Hollywood, o futebol americano tem pouca visibilidade em Portugal. Mas esta situação parece estar a mudar: a modalidade tem vindo a ganhar adeptos e o número de equipas aumentou nos últimos anos. O campeonato nacional, criado em 2009, já vai na 4.ª edição e conta com um número recorde de equipas: ao todo, são 10 clubes a lutar pelo título nacional.

André Amorim, da Associação Promotora do Desporto de Futebol Americano, (APDFA), diz existirem em Portugal cerca de 500 atletas e muitos mais aficionados, permitindo ao campeonato crescer cada vez mais, explica o representante da APDFA.

Apesar da competição entre clubes existir apenas há 4 anos, a prática da modalidade surgiu há cerca de uma década. O primeiro clube a dedicar-se à prática de futebol americano foi o Sport Renegades, criado em 2005, por Daniel Corrêa. O Erasmus na Alemanha, onde o desporto já está bastante enraizado, foi o suficiente para lhe despertar a paixão pela modalidade.

Antigo estudante da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) foi um dos fundadores do clube e nos primeiros treinos, lembra Daniel Corrêa, estavam “5 ou 6 pessoas”. “A pouco e pouco o número de jogadores aumentou” e atualmente, o Sport Renegades já conta com cerca de 30 atletas.

No futebol americano não há espaço para vedetas

Regras do Futebol Americano

Cada partida de futebol americano tem a duração de 60 minutos, divididos em 2 partes de meia hora. Cada equipa é composta por 11 jogadores e tem o objectivo de conquistar mais pontos que o adversário. O campo rectangular mede 120 jardas de comprimento (cerca de 110 metros) e cerca de 50 metros de largura. O campo é dividido de 10 em 10 jardas e para pontuar uma equipa tem de fazer chegar a bola até às últimas 10 jardas do lado adversário, como explica Isaías Moreira, árbitro do campeonato nacional. Para além do “touchdown”, ou seja, entrar na área adversária com a bola, as equipas podem pontuar, rematando a bola entre duas barras verticais posicionadas no final do campo.

O jogo de equipa e a complexidade estratégica são duas das características mais evidenciadas pelos fãs da modalidade. Vasco Sousa, jogador da equipa portuense, diz que o futebol americano é um verdadeiro desporto de equipa: “Estão sempre 11 jogadores à defesa e 11 jogadores ao ataque, quando um falha, os restantes 10 têm de compensar”, explica.

Nuno Mateus, jogador da mesma equipa faz até a comparação com o futebol: “Aqui não é possível dizer qual é o melhor jogador da equipa, como no futebol existe o Messi e o Ronaldo, aqui não dá para fazer pontos sozinho”, garante. Já Isaías Moreira, árbitro do campeonato nacional evidencia a vertente tática da modalidade: “Existem centenas de jogadas treinadas para superar a defesa e conquistar terreno ao adversário, este desporto é bastante complexo.”

A conhecida placagem é um dos movimentos característicos da modalidade, já que o contacto físico é permitido e bastante utilizado para parar a jogada adversária. No entanto, os atletas e aficionados garantem que o desporto não é muito violento.

Isaías Moreira, árbitro do campeonato nacional afirma que existem muitas regras que evitam agressões e defendem a integridade física dos atletas. Segundo Susana Machado, massagista do Sport Renegades, o número de lesões no futebol americano é semelhante ao de outros desportos.

Em Portugal ainda não há condições para a prática da modalidade

Flag Football

Na formação das camadas mais jovens é praticada uma vertente do futebol americano sem contacto físico. No flag football, a placagem é retirada do jogo para evitar lesões entre os mais jovens. Em Portugal, já existem alguns torneios desta vertente da modalidade. Normalmente os jovens aderem bem ao Futebol Americano, afirma Rui Pinheiro, representante dos Sport Renegades.

Apesar do aumento de número de clubes e atletas, as condições ainda não são as melhores para a prática deste desporto. Não existem infraestruturas próprias e o material tem de ser importado. Segundo André Amorim da APDFA, os clubes não têm meios financeiros para pagar o equipamento, o que muitas vezes fica à responsabilidade dos atletas. O equipamento individual é composto por capacete, “shoulderpads” (proteções de ombros), camisola, proteções de pernas e boquilha, o que ao todo custa mais de cem euros. A falta de recintos de competição é outro indicador da falta de condições. Normalmente as equipas utilizam campos de futebol ou rugby e fazem as marcações de forma artesanal.

Rui Pinheiro, representante dos Sport Renegades lembra que Portugal está ainda muito atrasado em comparação com outros países europeus. Na Alemanha e na Aústria já existem várias escalões de competição. França, Itália, Alemanha e Suécia já participaram em campeonatos do mundo de selecções. Por enquanto Portugal ainda não tem selecção, nem participa no EuroBowl, a principal competição europeia de clubes.