O músico Frankie Chavez quer lançar o terceiro álbum. Para contornar o universo das grandes editoras, fez um pedido para o conseguir, com uma meta de 5 mil euros. Restavam poucos dias para a campanha terminar e o artista já detinha um valor arrecadado “mais do que satisfatório” tendo em conta a “altura complicada” que se vive. Para o cantor, o crowdfunding é “a forma que melhor se adapta aos dias de hoje”, para se “viabilizar projetos de várias vertentes”.

Crowdfunding – toma lá, dá cá

As campanhas de “crowdfunding” funcionam no conceito de dar e receber. A “multidão” – do inglês crowd – apoia com dinheiro e recebe algo em troca, que pode ir desde um agradecimento, a brindes, a exemplares do projeto em questão, ou a participação na produção e a oportunidade de conhecer a equipa. Nalguns casos, podem ser reclamadas verdadeiras relíquias. Os Of Montreal chegaram a disponibilizar um barco usado num videoclip e fatos que o vocalista vestiu durante atuações, a quem ajudasse a financiar um documentário sobre a banda.

“No caso da música, existem intermediários que pouco fazem e ficam com quase metade da receita de um disco vendido. O crowdfunding torna possível aos artistas promoverem e distribuírem a sua arte junto do seu público alvo. Trata-se de uma compra antecipada do álbum”, conclui.

Natanael Gama, designer gráfico das Caldas da Rainha desenvolveu uma fonte própria para ser utilizada em revistas e web. Queria vê-la disponível gratuitamente e, para isso, usou uma plataforma de crowdfunding. Resultado: um sucesso. “A família de fonts está disponível de forma gratuita, qualquer pessoa pode fazer o download”, justifica Natanael. Este trabalho foi uma lufada de ar fresco para a carreira do designer: “O projeto foi também a minha rampa de lançamento para o mercado e desde aí têm surgido outros projetos”.

Nem todos os projetos têm um “final feliz”

“Surpreendido com a generosidade de algumas pessoas”, Nataneal ressalva a “desconfiança a respeito destes novos métodos de negociar”. Poderá ter sido este um dos motivos do insucesso da campanha de “Lázaro“, o filme-projecto de 13 alunos da Escola Superior Artística do Porto (ESAP). “A maior parte do dinheiro veio de familiares e os «desconhecidos» preferiram fazê-lo através de uma conta bancária” disponibilizada, “por segurança, ou por preguiça de seguir os passos necessários no site”, explica Filipa Falcão, assistente de realização.

A ideia terá surgido do realizador, Miguel Pinho, que viu no sucesso da campanha de um documentário sobre as Aldeias de Xisto, do realizador João Correia, um exemplo a seguir. “O dinheiro que pedíamos era o que necessitávamos no total. Como ainda não tínhamos a certeza se a escola nos ajudaria no financiamento do filme, fizemo-lo por uma questão de segurança. Sinceramente nunca achámos que conseguiríamos a totalidade (1.500 euros), mas porque não tentar?”, conta Filipa.

O funcionamento deste sistema de financiamento pode variar conforme as plataformas escolhidas, mas baseia-se nos mesmos princípios. No caso do Kickstarter e do PPL, caso uma campanha não atinja a meta dentro do prazo estabelecido, todo o valor arrecadado é devolvido aos que contribuíram. Outras plataformas, como a Indiegogo funcionam com opções mais flexíveis.