Tauromaquia: argumentos e pontos-de-vista

O eclodir de polémicas e a ascenção da preocupação com os direitos dos animais determinaram a criação de movimentos e grupos organizados que se confrontam na troca de argumentos a favor e contra a tauromaquia em Portugal. O caso português chega a ser alvo de atenção por parte de organizações e movimentos internacionais.

Legislação Tauromáquica

A lei, publicada a 12 de Setembro de 1995, considera que “são proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os atos em que, sem necessidade, se infliige a morte, sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal”. Ainda assim, um novo decreto acrescenta que a tauromaquia, em Portugal, “é, indiscutivelmente, parte integrante do património da cultura popular portuguesa”. Sob supervisão da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e pelo diretor da corrida, estes espetáculos deverão decorrer em recintos aprovados pela entidade e os eventos devem contar com a presença de um médico veterinário que assegura o cumprimento de parâmetros relativos à saúde do animal. Em 2002, esta regulamentação tauromáquica sofreu alterações com a publicação de um decreto por parte do Presidente da República. No documento, proibem-se “as touradas, ou qualquer espectáculo, com touros de morte”. Como exceção, mantém-se este tipo de tourada em locais onde esta se tenha “mantido de forma ininterrupta, pelo menos nos 50 anos anteriores à entrada em vigor” da lei.

O país encontra-se no raio de ação do Movimento Internacional Contra as Touradas que “surgiu em 2002, porque havia necessidade de criar um movimento que fosse internacional, de forma a denunciar ao resto do mundo a barbárie da tauromaquia. Fazemos campanhas quer a nível nacional, quer internacional contra touradas e especialmente contra a disseminação das mesmas”, explica a coordenadora, Maria Lopes.

Também outras organizações de carácter internacional condenam este tipo de eventos e a pressão externa aumenta quando o assunto é discutido noutros países. O exemplo da Catalunha, que no início do ano passado, proibiu a realização de touradas na região é tido, em Portugal, como uma referência.

Na difusão da mensagem anti-tauromáquica, as redes sociais constituem uma mais-valia. “Inicialmente, foram criadas páginas nas redes sociais Hi5 e Myspace, mas com o aparecimento e crescimento do Facebook, a página passou para essa plataforma, atingindo aí um maior número de seguidores, tanto a nível nacional como internacional”, conta o movimento Anti-Tourada.

Álvaro Pereira, um empresário do ramo na Póvoa do Varzim, conta que “neste momento” também já há “empresários taurinos a fazer divulgação unicamente pela internet” e que “a internet foi uma coisa que também chegou à cultura tauromáquica”. Acrescenta ainda que a tauromaquia existe “porque foi evolutiva”. Ainda assim, sublinha, o “que é tradicional, não pode ser modernizado”. A tauromaquia “foi uma tradição que deixou de ser tradição” e que se desenvolveu para ser considerada “uma cultura”, afirma.

Uma “reminiscência da Idade Média”

No que à adesão por parte dos jovens diz respeito, Álvaro Pereira diz que “a qualquer praça que vá vejo muita juventude”. Do lado oposto, classificando este tipo de eventos como uma “reminiscência da Idade Média”, o Movimento Internacional Contra as Touradas acusa grupos organizados de tirarem proveito do argumento cultural de forma a movimentar um mercado de exploração animal.

Os eventos solidários

Maria Lopes falou ainda do conceito de touradas de carácter solidário: “Qualquer tourada com fins solidários mais não é que uma forma de lavar dinheiro sujo de sangue e branquear a tortura tauromáquica. Existem muitas formas de ser solidário sem que tal passe por torturar animais”, afirma a coordenadora”.

O argumento segundo o qual a tradição deve ser mantida enquanto manifestação cultural é rejeitado por parte das organizações, que defendem o fim destas práticas. “A violência, o sangue, a crueldade , tudo o que humilha e desrespeita a vida jamais poderá ser considerado arte ou cultura”, avança a Liga Portuguesa dos Direitos do Animal (LPDA).

“Em toda a História da Humanidade sempre existiram tradições, cultos e crenças cruéis. Não devemos persistir no erro da manutenção de tradições retrógradas e sangrentas”, completa o Movimento Anti-Touradas de Portugal (MATP).

“Eu não me importava de ser toiro”

Já Álvaro Pereira defende que “gostar de animais é uma coisa, ser anti-taurinos é outra”. O empresário critica os argumentos que os “anti-taurinos” utilizam e acrescenta que “as pessoas anti-taurinas que sejam defensoras dos animais entram num contrasenso”.

Segundo o próprio, um touro, antes de ir para a arena, viveu quatro anos no seu habitat natural “e pondo a hipótese que sofre, porque não é tão linear quanto isso, a lide de um toiro só pode durar 13 minutos, de acordo com a lei do nosso país. Portanto, se efetivamente o touro sofre durante 13 minutos, num ciclo de quatro anos de vida, façam-me um favor, eu não me importava de ser toiro”, justifica.

Álvaro Pereira diz ainda que “o animal não é abatido por causa dos ferros” e que o único momento em que o touro, sente, efetivamente, dor, é no primeiro impacto com a arena. O empresário acrescenta que é contra as touradas de morte e diz-se “saturado destas atrocidades” com que os anti-taurinos descrevem os aficionados. “Não lhes perdoo: chamaram-nos assassinos. Em Portugal, não se matam toiros, correm-se toiros”, conclui.