As músicas de João Ricardo Pateiro trouxeram o mediatismo de volta ao relato desportivo, que “estava quase moribundo”, diz. “Sinto que ressuscitei o relato. Isto trouxe a discussão de volta e ao menos hoje em dia as pessoas criticam, discutem como se deve fazer um relato”, explica. No entanto, garante que “o maior mérito nisto não foram as letras, as músicas, ou a ideia” mas “a coragem de o fazer num país muito cinzento e conservador”, admite.

A “crise” no relato

Para o jornalista, o relato de futebol é “um dom que nasce com cada um” e, neste momento, “não aparecem tantos talentos como apareciam, por exemplo, no início dos anos 90”, afirma. Como a principal raiz desta “crise”, aponta o excesso de transmissões televisivas dos jogos. Segundo Pateiro, o facto de as pessoas preferirem a televisão à rádio leva à perda do gosto pelo relato e à consequente falta de aperfeiçoamento do mesmo. Para o futuro, no entanto, mostra-se esperançoso e aponta Bruno Cabral da TSF, Carlos Rui Abreu na Antena 1 e José Pedro Pinto na Renascença como três jovens valores do relato em Portugal.

As músicas, essas, tornaram os relatos do jornalista famosos, valeram-lhe alguns prémios e já entraram para a história da rádio em Portugal, mas não é essa a marca que o jornalista quer deixar no mundo do relato desportivo. “Penso que reduzir o meu relato às canções é patético, porque eu relato há muitos anos, e as canções são menos de um por cento do relato”, afirma.

O relato, sublinha, é feito de “muitos vetores“, sendo que “o principal é a capacidade de descrição do relatador”. “À partida, quem está a ouvir não está a ver o jogo, por isso, quanto melhor for a descrição, melhor a pessoa consegue construir a imagem do jogo”, explica. Para além disso, desengane-se quem pensa que o ritmo tem de ser sempre “uma coisa desenfreada”, porque se assim for, só se “torna insuportável”, garante.

Relatar uma final internacional – isso sim, seria “recordado para sempre”

O jogo que mais o marcou foi aquele que decidiu a Taça UEFA a favor do Porto (contra o Celtic), em 2003. “Foi um grande momento e um grande jogo. A imprevisibilidade, o ambiente, as alterações do resultado, o comportamento da claque do Celtic… todo o jogo teve várias componentes que o tornaram inesquecível”, lembra.

Ainda assim, assume que o momento mais especial da sua carreira seria relatar uma final de uma grande competição internacional, como um Europeu ou um Mundial de futebol, tendo Portugal como um dos finalistas. “Penso que a nível de rádio será um momento fantástico, e quem tiver oportunidade de relatar esse momento será um privilegiado, recordado para sempre”.