A aposta em conteúdos diferentes dos usuais começa a ter maior impacto junto dos jovens mas, ao contrário do que seria de esperar, as opiniões dividem-se. “Girls”, série criada em 2012 e atualmente na segunda temporada, contraria padrões e estereótipos e gera controvérsia nos temas abordados.

Lena Dunham, atriz e autora da série, é considerada por muitos “a voz da sua geração”. Nos episódios da saga protagoniza várias cenas de nudez e sexo, que desagradam a vários fãs.

Segundo o blog Cinematic Corner, por exemplo, Hannah – a personagem de Lena Dunham – é considerada preguiçosa, estúpida, egoísta e irritante. Para além disso, é ainda defendido, no blog, que Lena não se parece com as mulheres reais e afirma ainda que não se acredita que alguém seria capaz de ter relações sexuais com a personagem.

Hannah não tem o típico corpo de outras estrelas de Hollywood nem uma vocação profissional definida e é, por isso, alvo de várias críticas.

Skins

Skins é uma série inglesa, criada por Jamie Brittain e Bryan Elsley em 2007. A história centra-se num grupo de jovens entre os 16 e os 18 anos que lidam diariamente com dramas de adolescentes. A série gera polémica desde o primeiro episódio pois aborda temas sobre sexo, droga, aborto, álcool, anorexia e homossexualidade. A série foi adaptada e surgiu a “Skins” americana. No entanto, em 2011, a MTV não renovou a série uma vez que não agradou à maioria dos americanos.

Enquanto uns dizem que esta é a primeira série televisiva onde o público masculino quer que a protagonista mantenha as roupas vestidas, outros acreditam que Hannah é o espelho da maioria das mulheres. João Gonçalves, estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), acredita que a personagem Hannah “transmite outra ideia sobre o mundo feminino e distancia-se das típicas imagens de nudez exibidas em filmes e séries, onde o que importa é mostrar corpos perfeitos e socialmente aceites”.

“Girls não tenta esconder nada nem fingir nada”

Carolina Vaz-Pires, estudante da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), diz ser fã de “Girls” por ser uma série “demasiado real”. Apesar de inicialmente ter ficado de pé atrás por nunca ter sido seguidora de nenhuma série em especial, a veracidade incomum agradou a Carolina.

Por sua vez, Fernanda Oliveira, estudante de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), diz que “Girls” é “provocante, inteligente e excessivamente real, fazendo-nos identificar com alguma das personagens”. A estudante da FAUP defende que não há motivos para considerar a série chocante ou escandalosa, já que face à geração atual pouca coisa pode ser considerada “imoral”. “Acho que o chocante da série está mais na pureza das relações por detrás de todas as banalidades e de todo o sexo, e nos diálogos tão crus e reais, do que propriamente nas cenas mais explícitas”, justifica.

Quanto à nudez da personagem Hannah, as duas jovens concordam que o corpo da jovem espelha uma realidade comum à maioria das mulheres “sem recorrer ao auxílio de Photoshop e dietas malucas” e a única coisa incomum são as tatuagens de livros infantis que Lena Dunham tem no corpo.

“Há uma naturalização forte do sexo e um empobrecimento da exploração erótica”

Para o sociólogo João Teixeira Lopes, apesar de cada vez mais o corpo masculino ser “um alvo mediático”, o corpo feminino é mais afectado pelos rótulos, “até porque ainda persiste um duplo padrão de comportamento e certas atitudes e posturas que são permitidas aos rapazes, mas não às raparigas”.

Já Paula Guerra, também socióloga, acredita que atualmente são vários os tabus existentes quanto ao sexo, morte ou mesmo política devido à imposição de novas fronteiras por parte de alguns grupos sociais. No entanto, a socióloga realça que os tabus “acontecem independentemente de se ser homem ou mulher”, não sendo estritamente típico de um dos sexos mas sim de grupos de valores.