A sala estava cheia quando Luís Diamantino, vereador da cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, deu início à cerimónia de abertura do “Correntes d’Escritas 2013”. Depois de uma breve introdução ao encontro, Luís Diamantino não se demorou a iniciar o anúncio dos vencedores dos prémios literários. Seguiu-se a apresentação da revista “Correntes d’Escritas 2013” que, nesta 12.ª edição, homenageia o escritor Urbano Tavares Rodrigues.

Como é costume nesta cerimónia, um escritor falou em nome de todos os escritores portugueses. Hélder Macedo, que assumiu a responsabilidade, não falou só de literatura mas também de cultura e educação.

Depois de relembrar o contributo que a cultura ainda pode trazer ao “nosso triste e pobre país”, o escritor lamenta que Portugal não saiba reconhecer os cineastas e escritores que estão a ser reconhecidos lá fora e que podiam dar muito ao país. Hélder Macedo sublinha mesmo que Portugal segue uma “política cultural de pedintes” já que procura exportar cultura embora ainda não tenha as bases para o fazer.

A obra vencedora

“A Terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda”

Hélia Correia, “A Terceira Miséria”

O JPN teve ainda oportunidade de falar com Hélia Correia, a distinguida com o prémio Casino da Póvoa. A escritora deixou claro que não se considera uma vencedora, uma vez que não lutou em nenhuma batalha para receber o prémio. Porém, demonstra o carinho que sente pelo júri.

A obra que lhe valeu a distinção, a ““Terceira Miséria”“, foi avaliado pelo júri como “um longo poema construído a partir da matriz clássica europeia para refletir sobre questões fundamentais do Ocidente”.

Não fazem mal as musas… aos doutores

Foi com a Conferência de Abertura que a tarde começou, proferida por João Lobo Antunes. A conferência tinha como título “Não fazem mal as musas…” ao que Lobo Antunes não se demorou a completar com mais duas palavras “aos doutores”.

Os mitos mentem ou não?

A primeira das sete mesas de debates do encontro começou pouco depois, às 17h. O tópico de discussão desta primeira mesa era um verso do poeta Bernardo Pinto de Almeida: “Mentem-nos tanto os mitos”. Hélia Correia debateu com Inês Pedrosa, Mário Zambujal, Almeida Faria, António Mega Ferreira e António Sarabia.

Depois de ter dito que “a língua faz-nos pensar”, o escritor falou da sua relação com a caneta que “escreve e prescreve” e acabou por confessar que a sua inspiração para escrever vem de todas aquelas vidas (no plural) que conhece e lhe deixam “a cabeça a fermentar com ideias”. Ao admitir a sua tendência para fugir à ficção, Lobo Antunes admite até que “Se calhar tenho um romance dentro de mim mas o melhor é que não saia”.

Depois de ler o seu ensaio “A história do velho” para uma sala cheia, João Lobo Antunes respondeu a algumas questões do público. Questionado sobre o que o seu trabalho deixaria para a posterioridade, Lobo Antunes respondeu “O que a posterioridade me fez a mim para me preocupar com ela?”, encerrando a conferência com uma chuva de aplausos.

O “Correntes d’Escritas” continua até ao próximo sábado, dia 23, com exposições, lançamento de livros, mesas de debate, sessões de cinema, exposições e uma feira do livro.