Elias Lönnrot, um médico rural finlandês do século XIX, escreveu o longo poema épico “Kalevala”, dividido em 50 cantos e cuja versão definitiva foi publicada em 1849. Além de Tolkien, a mitologia e o folclore de Carélia (região atualmente dividida entre a a Finlândia e a Rússia) e da Finlândia também inspiraram outros escritores, como Sibelius.

O projeto de traduzir a obra da língua original para a língua portuguesa foi oficializado durante a visita de Jorge Sampaio, na altura presidente, à Finlândia, em outubro de 2002, após o convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país nórdico.

Foi na Faculdade de Letras da Universidade do Algarve que surgiram os profissionais escolhidos para trabalhar no projeto, Merja de Mattos-Parreira, professora finlandesa, e os seus dois colegas Ana Isabel Soares e José Joaquim Marques. Apesar de José ter ajudado na parte de investigação, a tradução da obra foi realizada apenas pelas duas professoras.

Curiosidade

Traduzir o “Kalevala” para português serviu também como inspiração para avançar com o projecto de tradução d’Os Lusíadas para a língua finlandesa. A tradução das epopeias nacionais portuguesa e finlandesa foi considerada como uma parte significativa do intercâmbio cultural entre os dois países.

Passados 150 anos da edição definitiva do “Kalevala”, o poema épico foi finalmente publicado em Portugal numa tradução direta do finlandês num volume de 600 páginas, ilustrado por Rogério Ribeiro (entretanto falecido).

O trabalho de tradução desenvolvido pelas duas professoras foi moroso, mas, sem dúvida, uma experiência enriquecedora. “Aprendemos muito sobre a língua, sobre mitologia clássica, paganismo ou xamanismo”, conta Ana Soares. A tradutora fala ainda da importância de descobrir como “as pessoas se dão em momentos de dificuldade e de desafios, um dos temas que perpassa todos os cantos reunidos no Kalevala”.

Ana realça ainda que o “trabalho não se limitou à versão dos versos para português”, incluindo também uma introdução feita por um especialista da obra bem como uma série de notas explicativas de forma a diminuir as barreiras culturais entre os dois países.

De acordo com Ana Soares, o balanço da tradução do poema é positivo mas cabe aos leitores avaliarem o trabalho final: “Quanto ao valor dos versos a que chegámos, terá de ser cada leitor a fazer essa avaliação. Seremos sempre imparciais – e diremos que fizemos o melhor que soubemos e pudemos”.