A conjuntura atual tem levado cada vez mais jovens a voltarem às origens – seja para evitar emigrar, por falta de emprego ou até pela oportunidade. Mas cada um destes motivos não pode ser dissociado das ajudas financeiras externas que estes têm ao seu dispor para potenciarem os seus projetos.

Em média, e segundo os números relativos ao ano passado do ProDer (que gere os fundos da Política Agrícola Comum (PAC) europeia para o desenvolvimento rural), todos os meses cerca de 280 jovens agricultores instalam-se em Portugal. No mesmo sentido, os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística demonstram que o setor da agricultura, pesca e floresta foi o único com aumento de emprego (1,6 face a 2010).

Financiamento ProDer

Para se ter acesso às verbas do ProDer os candidatos têm que ter menos de 40 anos, se tiverem terra em nome próprio ou arrendamentos de longo prazo têm acesso a trinta mil euros (quarenta se constituírem uma empresa com mais de um titular) e podem ainda receber apoios (entre 40% e 60%) do investimento que realizarem.

Muitos fazem-nos pelo “retorno financeiro”

Esta visão objetiva e empresarial em relação à agricultura é uma “estranha” forma de a explorar, diz Pedro Rocha ao JPN. Detentor da Raízes, produtora e distribuidora de produtos biológicos, este jovem empresário sempre soube bem o que quis.

“Eu vim para a agricultura porque sempre tive isto como ambição pessoal e licenciei-me em Ciências do Ambiente. Mas sei também que muitos dos novos jovens que agora entram no meio, fazem-no apenas pelo retorno financeiro que isso possa vir a trazer-lhes”. E vai mais longe: “Não me parece que só porque se tem um terreno desocupado, ou porque se quer aproveitar os fundos europeus – também por falta de alternativas -, os jovens devam optar pela agricultura. À mínima contrariedade vão desistir”, garante.

O empresário não esquece também que este é o contexto extraordinário que propicía atitudes extraordinárias. E, talvez por isso, “pareça que os preconceitos foram ultrapassados” mas, como garante Pedro, “não foram”. “Estar na agricultura implica um pensamento a longo-prazo. Implica recolher dividendos só anos depois do trabalho que fazemos hoje”, alerta.

“Quando, daqui a uns anos, o país sair da crise e surgirem novas oportunidades noutras áreas, os agora jovens agricultores voltam à sua vida anterior?”, pergunta. “E depois quem pagará essa fatura? Temos de estar nisto a 100% e com prazer”, remata.