Depois de “Grândola, Vila Morena” ter sido entoada nos Aliados, a música também foi usada pela população para afastar o cordão policial que, ao final da tarde, circundou um grupo de jovens, junto à estação de metro da Trindade.

Em conversa com um dos populares, um agente da PSP afirmou que o grupo terá sido responsável por ter pintado bancos públicos. Por outro lado, algumas testemunhas oculares garantiram que os jovens apenas tocavam tambores.

Alertado para a situação através de um grupo de pessoas que espalhou o acontecimento pelos Aliados, Raúl, um jovem manifestante, afirmou: “Quando aqui cheguei, a polícia estava a cercar pessoas e não nos diziam porquê – estavam apenas a cumprir ordens -, o povo revoltou-se e fez um cordão à volta da polícia”.

Curiosos tentaram furar o círculo e questionar o motivo da detenção, acabando por ser empurrados pelos agentes. A ação da polícia levou à entoação de frases, como “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”, e provocações como “esta é a vossa democracia!”.

Após a chegada da polícia de choque e da detenção violenta de dois elementos, arrastados pelos agentes do corpo de intervenção, as vozes juntaram-se e entoaram a música de Zeca Afonso. “Dentro de ti ó cidade, o povo é quem mais ordena”, cantava-se, enquanto se formava um cordão populacional que obrigou os agentes a recuarem.

Com os ânimos exaltados, as forças de segurança regressaram às viaturas, em fuga. Foi nessa altura que se fizeram ouvir estardalhaços, segundo a PSP, provocados por engenhos pirotécnicos. No entanto, há quem relate disparos de tiros para o ar. À saída, foram arremessados vários objetos contra as carrinhas da polícia que abandonaram o local, ainda de portas abertas.

Em declarações ao JPN no local, José Soeiro, sociólogo e membro do Bloco de Esquerda, afirmou que não assistiu o “suficiente à atuação da polícia”. Acrescentou, no entanto, que “a população foi exemplar” ao tentar impedir que os jovens fossem detidos sem motivo.