“Este filme foi mal entendido quando apareceu e é hoje o mais popular de todos os meus filmes”. É assim que Manoel de Oliveira, o mais velho cineasta em atividade no mundo, relembra a sua primeira longa-metragem, em palavras de agradecimento.

Mas voltemos ao início, quando uma enchente de pessoas cumprimentou Fernanda Matos – a Teresinha, no filme – à chegada ao Rivoli. Entre as perguntas dos jornalistas, confessou: “Não gostava nada que me chamassem “Aniki Bóbó“, quando era pequena. Uma vez, no colégio, dei uma bofetada a um rapaz”.

Pouco se esperou por Manoel de Oliveira. Ao dar-lhe as boas vindas, no Grande Auditório, Mário Dorminsky, diretor do festival, comoveu-se: “É um ícone da cidade, da nossa cultura, um amigo”, sublinhou. E também a diretora, Beatriz Pacheco Pereira, não escondeu o contentamento: “Mais do que um momento alto do Fantas, isto é um momento alto para mim”.

Feitas as homenagens, foi difícil tirar os olhos dos protagonistas para colá-los na tela e recuar 70 anos. No meio de gargalhadas, ouviam-se comparações entre o Porto antigo, pano de fundo da película, e o Porto de agora. Um retrato intemporal sobre amor, sentimento de culpa, perdão e crescimento.

Gente de todas as idades para receber o “mestre do cinema”

Terminado o filme e depois do longo aplauso, Manoel de Oliveira agradeceu, com uma voz que demonstra sinais do tempo, já gasta e dificil de ouvir. A mesma voz que ecoa, há décadas, na história do cinema. Mas “ele ainda está vivo e com vontade de fazer mais”, assegurou Fernanda Matos.

Manuel Cabral, de 18 anos, viu o Aniki Bóbó pela primeira vez no Fantasporto. “Um filme com 70 anos, é impensável ver na mesma sala que um realizador desse tempo. É incrível”, conclui. O pai de Manuel, com 52 anos, ainda se lembra de grande parte do Porto dos dias de Aniki Bóbó. “Há um episódio muito engraçado, na ponte D. Maria quando passa o comboio. Achamos, de repente, que estamos na atualidade“, e está a passar o metro.

“É um amor eterno”

Fernanda Matos contou ainda como surgiu o convite para entrar em “Aniki Bóbó” e como é que vive, hoje, com o filme. “Para mim aquilo foi uma brincadeira, nem tinha noção daquilo que estava a fazer”, revela. A atriz nunca imaginou que pudesse rever o filme, “muito menos com esta idade”. “Deve ter sido um vírus que apanhei do Manoel de Oliveira”, brincou.

A relação com o realizador é um laço que dura para sempre, ou, como costuma dizer, “um amor eterno”. Mas fazer mais filmes é uma hipótese que deixa de lado: “Estávamos bem era no museu”, ironiza. Isto é “uma herança para toda a vida”, enaltece a já crescida “Teresinha”.