Cristina Antónia nasceu e viveu toda a sua vida na Rua de Entre-Quintas, entre o Palácio de Cristal e o rio Douro. A moradora recorda como antigamente o espaço “era uma maravilha”, mas ao longo dos anos a opinião mudou: agora, o quarteirão limita-se a “caminhos de cabras com casas abandonadas”. “Um verdadeiro caos”, sublinha.

A estreita e tortuosa Rua de Entre-Quintas, incluída nos “Caminhos do Romântico”, encontra-se presente em quase todos os roteiros turísticos do Porto. O objetivo é mostrar o Porto oitocentista e a mistura entre o rural e urbano, apesar de se localizarem bem perto do centro da cidade. O espaço turístico conta ainda com a Casa Tait e oMuseu do Romântico, assim como com uma bela paisagem sobre o Douro.

Requalificado durante a Capital da Cultura 2001, o espaço encontra-se atualmente degradado: as paredes e placas informativas encontram-se repletas de grafitis, não existem grelhas nas sarjetas e vários edifícios permanecem devolutos.

Vidros partidos na Casa Tait

No local onde funciona o Departamento Municipal de Museus e Património da Câmara Municipal, podem-se ver vários vidros partidos e os jardins semeados com estilhaços.

Cristina Antónia diz ainda que, para além do vandalismo, existem também “assaltos a turistas e a carros ao longo da rua, mesmo durante o dia”. Felismina Brito também vive na zona e conta que, “desde a requalificação, em 2001, que alguns muros começaram a ceder”. Para além disso, reclama que a “iluminação é bastante fraca”. “O meu marido até caiu no ano passado e partiu um pé, porque não havia luz”, conta. Sobre os assaltos, afirma que junto ao Museu do Romântico, no cimo da rua, “a situação é bastante má”. Felismina conta ainda que já foram feitas algumas reclamações pelos moradores junto da Câmara Municipal.

Carla Sofia Maia, presidente da Junta de Freguesia de Massarelos, afirma que a situação tem sido acompanhada e comunicada à Câmara Municipal. Sobre os assaltos, explica que a Junta de Freguesia “trabalha em conjunto com a polícia e não tem registo de ocorrências”. Apesar da degradação do projeto turístico, a presidente da Junta afirma mesmo que o turismo nos “Caminhos do Romântico” tem vindo a aumentar.

“Um exemplo do património desaproveitado do Porto”

Pedro Carvalho, vereador da Câmara Municipal do Porto pela CDU, denuncia que, “em 2009, o executivo prometeu resolver a situação, mas esta é mais uma promessa que ficou por cumprir”. Para o vereador, os “Caminhos do Romântico” precisam de ser dinamizados, pois “um dia a degradação pode ser irreversível”. Sobre o vandalismo e os assaltos, Pedro Carvalho diz ser normal que espaços que não tenham atividade se tornem pouco seguros.

Para o vereador, o espaço da Rua de Entre-Quintas é essencial para a cidade, devido ao património museológico, à vista sobre o rio e aos jardins da Casa Tait e do Museu do Romântico. Em relação a este assunto, o JPN tentou entrar em contacto com a Câmara do Porto e com a Polícia Municipal, mas não obteve resposta.