A mentalidade dos cidadãos portugueses mudou no dia 12 de março de 2011, quando o protesto “Geração à Rasca” juntou 200 milhares de pessoas, em Lisboa, e 80 mil na cidade do Porto. Esta é a opinião de Ana Filipa Pinto, jornalista, que esteve presente na manifestação. Autora do livro “Geração à Rasca”, publicado em 2011, falou ao JPN das mudanças que acha que se verificaram nos últimos dois anos: “O que mudou foi a atitude”, diz. Atualmente, “há uma vontade de participar ativamente e isso é irrefutável”.

Paula Gil, organizadora da manifestação, corrobora a posição da jornalista e afirma a manifestação como um marco de mudança: “Mudou a participação cívica: há muito mais participação, há muito mais interesse”, afirma, em entrevista ao JPN.

De acordo com a jornalista, “uma coisa que não muda – e ainda bem- que é o caráter pacífico das ações que têm sido vistas no nosso país”. Apesar de alguns acontecimentos pontuais, Ana Filipa diz que esta atitude “é gratificante e positiva para Portugal e para a imagem do nosso país”.

É ainda com orgulho que Ana Pinto Silva afirma fazer parte de uma geração que não baixa os braços e que tenta, a todo o custo, “desenrascar-se”. No entanto, nem tudo mudou para melhor: “Os números não nos deixam muito optimistas – a taxa de desemprego jovem aumentou”, explica.

Para Ana Filipa Pinto, o protesto “Geração à Rasca” de 2011 inspirou as manifestações que tiveram lugar a partir dessa data: “Acredito que esse dia marcou por ter comprovado que é possível juntar tanta gente tão diferente – estavam pais, avós, filhos – dessa tal “geração à rasca”. Foi a prova de que houve uma mudança de atitude que nesse dia ganhou rosto”, afirma.

“Geração à Rasca” serviu para “ativar a sociedade civil”

A par da criação de uma consciência de unidade que ultrapassa a faixa etária, a manifestação foi, para Paula Gil, “inovadora” – por não ter envolvido nem sindicatos, nem partidos políticos. “Activar a sociedade civil” e a manifestação da vontade colectiva sem afiliação foi, de acordo com a organizadora, uma das principais metas alcançadas.

João Labrincha também esteve envolvido na organização da manifestação. Dois anos depois, explica que nesse dia o paradigma de uma manifestação mudou: “Criou-se a perceção nas pessoas de que podiam atuar civicamente, sem terem de estar à espera de partidos ou sindicatos. Os próprios cidadãos, utilizando as redes sociais, juntaram-se com amigos e organizaram o protesto”.

Porém, atualmente, a situação de Portugal não está melhor, diz, pelo contrário. Segundo João Labrincha, o protesto inspirou outras formas de contestação – tanto no país como noutros locais da Europa: “A inspiração vem muito daquilo que aconteceu em Portugal dia 12 de março. Se por um lado a política piorou, por outro lado os cidadãos estão mais ativos, mas despertos e mais atuais”.

Importância da tomada de iniciativa e emigração como solução

João considera que o protesto “Geração à Rasca” foi um acontecimento de grande importância e apela aos jovens para continuarem a lutar por aquilo em que acreditam: “O que nos está a acontecer já aconteceu antes na história. A atuação diária das pessoas fez com que houvesse avanços naquilo que são os nossos direitos e naquilo que é a justiça e a possibilidade de sermos felizes no país em que crescemos”, sublinha.

No fim, no entanto, João Labrincha é da opinião que a sua geração continua à rasca, uma opinião partilhada pelos milhares que saíram à rua no passado dia 3 de março, no protesto “Que se Lixe a Troika, o Povo é Quem Mais Ordena” e por Paula Gil.

Criticando as políticas de governo quanto ao investimento na empregabilidade e na economia, a jovem afirma o carácter opcional da emigração: “Emigrar é sempre uma opção. Tem de ser uma opção, uma alternativa e não uma obrigatoriedade, como diz o governo”, termina.