A Fundação Casa da Música foi, este domingo, palco do protesto "É uma casa portuguesa, com certeza!". A iniciativa juntou centenas no manifesto contra os cortes de 30% do orçamento da instituição.

Solidariedade e cultura portuguesa foram os principais motivos que levaram os portuenses a sair à rua. A iniciativa “É uma casa portuguesa, com certeza!” serviu para a Fundação Casa da Música promover e defender a sua missão através de atividades de índole artística. O objetivo é dar visibilidade aos projetos que têm lugar na Casa da Música, bem como valorizar, celebrar e promover esta arte.

Em comunicado, José Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto (UP), caracterizou a instituição como “um espaço de partilha de valores” e realçou o valor da música na sociedade, uma vez que “chega a muitas pessoas e constitui um poderoso elemento de agregação cultural, socialização e construção identitária. Como tal, uma sociedade onde a música é desvalorizada tende a ser menos inclusiva e coesa”.

Marques dos Santos afirmou ainda que não é só a programação que pode ser comprometida, mas que também está em causa o “seu notável trabalho de formação musical” e “a capacidade que a instituição vem demonstrando para se abrir à comunidade”. De acordo com o reitor, enquanto instituição cultural, a Casa da Música dirige-se a públicos heterogéneos e promove a divulgação de vários estilos musicais – “Tudo isto numa lógica inclusiva e segundo irrepressiveis padrões de qualidade”. A consequência principal dos cortes é, para Marques dos Santos, “a asfixia financeira de uma instituição que representa o sentir de uma comunidade”.

É necessária austeridade, mas austeridade inteligente

O deputado do Parlamento Europeu, Paulo Rangel, disse ao JPN que considera que “os portugueses têm de ter consciência de que é preciso fazer austeridade, tem é de ser praticada uma austeridade inteligente”. Pedro Carvalho, vereador comunista da Câmara do Porto, afirma que a Casa da Música é de uma importância extrema para a cidade e que “esta é uma instituição âncora da cidade, é um equipamento importante do ponto de vista do país e da internacionalização da cultura nacional”. Acrescentou, ainda, que é “fundamental, do ponto de vista de divulgação, promoção e educação musical e tem de ser mantida”.

Uma “Casa” bem alicerçada

Apesar dos obstáculos, a Casa da Música tem conseguido manter a programação e o número de audiências uma vez que, para tal, teve de recorrer a fundos de reserva. Desde 2011 que a fundação tem sido alvo de cortes por parte do Estado. Em 2012, o Estado e a fundação acordaram uma redução de 20% para o orçamento do ano seguinte. No entanto, o acordo do Governo não foi cumprido uma vez que a percentagem foi aumentada para 30%.

Ana Venceslau, maquetista, protestou no exterior na Casa da Música e considera importante o povo unir-se pela causa: “Estou solidária com qualquer iniciativa promovida por quaisquer trabalhadores portugueses que se encontrem em dificuldades, porque, neste momento, acho que vivemos todos numa ditadura capitalista e temos de nos unir e ser solidários”.

André Quelhas, membro da comissão de trabalhadores da Casa da Música, faz parte da organização da iniciativa “É uma casa portuguesa, com certeza!”. Em entrevista, explicou ao JPN que a qualidade do serviço pode ser comprometida – “Desde abril de 2005 até hoje, a Fundação teve uma missão, teve um volume de programação de qualidade e vai ver-se impossibilitada de fazer isso”. Afirma, ainda, que a causa se prende com o facto de “o Estado não estar a honrar os seus compromissos e não estar a possibilitar que a Fundação continue a fazer o que fez até aqui”.

“Manifestamo-nos em nome da defesa da cultura e da descentralização”

Paulo Rangel acrescenta que o facto de a Casa da Música ter acordado o corte de 20% demonstra o quão solidária a Fundação está com o país. O deputado alerta, ainda, para as consequências dos cortes na “casa portuguesa” – “Para além dos cortes aceites, querem propor 30% e isso põe em risco o apoio dos privados, que não conseguem fazer mais esforço”. Pedro Carvalho refere que o corte do Governo vai pôr em causa uma série de projetos e “a estratégia seguida por esta casa”. “Digo ‘não’ e ‘basta’ a isto”, expressa Pedro Carvalho.

O deputado diz, ainda, que o Estado se devia aproximar da proposta feita inicialmente, uma vez que é sensata – “em nome da defesa da cultura e da descentralização, o país tem de fazer uma cura e acho que, para isso, estamos disponíveis”. André Quelhas, membro da organização, diz que “a Casa da Música tem público e tem aumentado os bilhetes vendidos. Apesar de um ano de crise, a casa tem conseguido aumentar os seus números”.