A notícia chegou da América, onde duas empresas – a Narrative Science e a Automated Insights – têm como negócio principal desenvolver algoritmos capazes de escrever textos coerentes e que possam ser compreendidos pelas pessoas. A ideia já é desenvolvida há vários anos e o objetivo é utilizar este serviço no jornalismo.

Até agora, tem sido utilizado para escrever principalmente notícias de jogos amadores, a que os jornalistas não dão tanta atenção, mas o algoritmo tem a capacidade de criar textos curtos que informam sobre o resultado, o nome dos marcadores e outras ocorrências, que ficam registadas numa base de dados.

Alguns destes serviços de geração de textos já são utilizados por empresas de media como a CBS, Yahoo, USA Today e Bloomberg, mas fica a questão: será que os computadores vão conseguir substituir os jornalistas? O JPN foi à procura de respostas.

O algoritmo traz vantagens ao jornalismo?

Fernando Zamith, professor do curso de Ciências da Comunicação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e jornalista especializado no meio online, considera este algoritmo um “excelente avanço” para um jornalismo que consegue ser tanto rápido como contextualizado. “O código que o jornalista usou no algoritmo garante-lhe que a notícia, que será feita automaticamente pelo robô, usará uma ou mais fontes credíveis e respeita critérios de noticiabilidade”, explica.

Ricardo Jorge Pinto, da Agência Lusa, considera que só poderão existir vantagens com a criação de novos algoritmos. “Os computadores permitem criar bases de dados através de critérios que o jornalista introduz, selecionar aquilo que pode ser útil ou aquilo que não lhe pode ser útil. Qualquer desenvolvimento nesta área não constitui nenhuma ameaça para o jornalista, como pode vir a ser uma ferramenta extremamente válida e útil”.

“Dentro de alguns anos, tudo o que é informação simples vai ser escrita por computadores”, acredita António Granado, editor Multimédia na RTP e docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Para Granado, os jornalistas terão de se habituar a que este tipo de informação esteja disponível de forma automática. Contudo, isto não retira a necessidade do jornalista sair da redação.

Põe em risco a profissão do jornalista?

“De maneira nenhuma põe em risco a profissão, porque quem programa o robô é o jornalista”, admite Fernando Zamith. Segundo a opinião do docente da Universidade do Porto, “serão sempre necessários jornalistas para definir o que é notícia a cada momento. O robô apenas se limita a executar as ordens que o jornalista lhe deu”.

O diretor-adjunto da Agência Lusa, Ricardo Jorge Pinto, considera que apesar de não ser necessário um jornalista para recolher o resultado de um jogo, até porque esses dados podem ser facultados pela própria organização do jogo: “Continua a faltar o trabalho do jornalista que é uma espécie de notário, alguém que coloca um selo de credibilidade e confiança na informaçãoque foi produzida”.

“É evidente que não me parece que os computadores substituam os jornalistas”, diz António Granado. No entanto, o editor Multimédia da RTP acredita que estas máquinas podem ser usadas para o bem do jornalismo, mas o contexto, algo fulcral para o jornalismo, tem se ser trabalhado pelo jornalista.