O nome de Heinz Frei não inunda os media como outros craques efémeros, mas fará companhia nos livros de História aos que, pela prestação desportiva, ensinaram mais ao mundo do que o culto da vitória. Aos 55 anos, um dos melhores atletas de sempre arranca para a participação em mais uma Meia-Maratona de Lisboa, tantas que o próprio assume que já lhe perdeu a conta.

Perfil

Heinz Frei tem 55 anos e é de Solothurn, na Suíça. O atleta, paraplégico, começou em 1980 e joga na equipa TopEnd – Küschall. Foi 10 vezes “Melhor Paraatleta Suíço” do ano e já conquistou 31 medalhas paralímpicas entre 1984 e 2012: 15 de ouro. Entretanto, acumulou ainda 13 títulos de campeão do mundo e é recordista na Maratona dos 100 km.

A prova, considera o atleta suíço, é uma das melhores do calendário nesta distância, frisando que “os atletas em cadeira de rodas são muito bem integrados”. Mas, na verdade, Heinz Frei nutre um carinho especial por Portugal, que o impede de falar sem que o coração lhe tolde o julgamento. Corria o ano de 2002 quando, num estágio após a Meia-Maratona de Lisboa, teve conhecimento das dificuldades com que se debatia o ex-atleta português João Correia.

Sensibilizado pela falta de condições materiais que o jovem de Santo Tirso enfrentava, decidiu oferecer-lhe a cadeira com a qual havia batido o recorde do mundo da Maratona em 1999. “Para mim foi um prazer dar a cadeira ao João para que alcançasse melhores prestações na Liga Internacional. Ele tinha muita motivação e fez um excelente trabalho com o que dispunha!”, realça.

A relação entre noviço e mestre não se quebrou até hoje. E quanto à cadeira, João Correia deu-lhe bom uso, conquistando a primeira medalha portuguesa a nível internacional, na categoria de cadeira de rodas. Em 2005, somou novo êxito, na Finlândia, ao trazer uma medalha de prata no Campeonato da Europa.

“Adoro o desporto, o que envolve e a qualidade de vida que me proporciona”

Provavelmente o melhor atleta de todos os tempos de desportos em cadeira de rodas e um dos nomes mais cimeiros da cena paralímpica, Heinz Frei não afugenta o rótulo, nem o agarra e fica-se pela modéstia dos números. “É possível que seja um dos melhores atletas de sempre de cadeira de rodas. Ganhei 15 medalhas de ouro, 11 no atletismo, 3 no ciclismo e uma no cross-country skiing. Ouro em três modalidades em oito Jogos Paralímpicos de Verão e 6 de Inverno… Bom, penso que isso é especial, e em certa medida uma loucura”, sublinha.

O ecletismo desportivo que demonstra suscita a pergunta óbvia sobre qual a modalidade que mais o entusiasma e Heinz é magnânimo na escolha. “Adoro-os a todos. O desafio de tentar a perfeição noutra modalidade torna-me mais forte e traz-me uma grande motivação”, conta. Popular no seu país, diz sentir-se “muito bem” e acarinhado.

E o que motiva o corredor natural de Solothurn a prosseguir a carreira aos 55 anos? “Adoro o desporto, o que envolve e a qualidade de vida que me proporciona”. Por isso, embora não esteja no horizonte participar nos Jogos de 2016 no Rio de Janeiro, “se já não for atleta”, espera “encontrar outro papel” fora das pistas.

Por agora, Heinz Frei concilia o treino com o trabalho no Comité Paralímpico Suíço, desempenha funções em comités de organização dos desportos em cadeira de rodas e realiza várias palestras no âmbito da Federação Suíça para a Paraplegia, do desporto adaptado e de como viver em cadeira de rodas. Domingo, o “jovem” atleta volta a brindar Lisboa com uma exibição de talento e perseverança.