Mesmo em tempo de férias, os jovens não desistem de manifestar o seu descontentamento face à falta de apoios que têm sentido no percurso escolar. Na última semana, os jovens manifestaram-se em Lisboa no Dia do Estudante, enviando uma carta ao primeiro ministro, Passos Coelho.

O número de alunos a desistir da licenciatura ou mestrado devido à fala de condições para suportar as despesas do ensino superior tem ainda aumentado nos últimos anos.

“Manifestar é uma das maiores e melhores armas que temos ao nosso dispor”

Miguel Vieira, 22 anos, é estudante da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e foi a Lisboa mostrar o seu “descontentamento e indignação face às medidas adotadas” pelo Governo que tem “atacado o ensino em Portugal”.

Desde que entrou para o ensino superior, Miguel tem sentido “a situação financeira familiar” a piorar, tornando até “impensável fazer certos trabalhos e adquirir alguns materiais”. O desinvestimento no ensino superior, bem como a asfixia financeira que as faculdades sentem, resultam em “menos condições materiais e humanas”. Não há contratação de novos funcionários, “aumentando o trabalho dos já contratados” e que, ao mesmo tempo, criam “turmas enormes”.

Miguel defende que a manifestação “é uma das maiores armas” de que os estudantes dispõem. O aluno recorda a medida que ia ser aplicada na FBAUP, que defendia “que os alunos que não tivessem pago as duas primeiras prestações da propina” não podiam inscrever-se nas cadeiras do segundo semestre.

Miguel acredita noutra solução “para lá dos cortes à classe trabalhadora”, que são os que mais sofrem com as medidas do Governo. O estudante diz que “tirar mais a quem pouco tem não me parece adequado à realidade do país”. Uma correta distribuição do dinheiro contribuía para uma “sociedade muito mais equilibrada” e combatia “as desigualdades”.

Deste modo, Miguel acredita os estudantes não tinham “que viver nesta asfixia financeira”. “As bolsas são cada vez atribuídas a menos alunos e o seu valor também tem vindo a reduzir gradualmente”, conta. Para o estudante de Belas Artes, as medidas adotadas pelo governo levam à “elitização” do ensino.

“Uma situação vergonhosa e triste”

Já Marta da Costa, estudante na Universidade da Beira Interior, diz que, apesar de não se sentir “diretamente afetada” pelos cortes na educação, convive “com colegas que têm que fazer contas à vida para lidar com os atrasos nas bolsas”. Trata-se de “uma situação vergonhosa e triste ver colegas a não irem à faculdade porque simplesmente não têm dinheiro para as viagens, por exemplo”, conta.

Para a jovem, as principais dificuldades prendem-se com os transportes. “Estou a estudar a cerca de 300 km da minha cidade natal e, só em transportes, gasto 45 euros por semana”, diz. As manifestações podem assim “servir de alerta”, diz. No entanto, Marta afirma que “neste momento é importante optar por manifestações mais originais”: “A ideia de cantarem a Grândola teve a sua piada, mas usou-se e abusou-se”, diz.

Marta acredita que o principal problema está na atitude dos portugueses. “Para ir para a rua todos estão prontos” mas quando é necessário “apresentar propostas ou defender a luta, poucos são aqueles capazes de o fazer”, sublinha.