“Desenho, inscrição, assinatura ou afim, feito com tinta, geralmente de spray, em muros, paredes e outras superfícies urbanas”: assim se define ‘Graffiti’ no dicionário de língua portuguesa. Com o objetivo de pôr fim a esta prática na cidade, a Câmara Municipal do Porto (CMP) tem encetado diversos esforços.

De acordo com Rui Rio, a CMP disponibiliza um orçamento anual de 150 mil euros para as ações de limpeza. No entanto, diz, “se isto ganhar uma dimensão ainda maior, não importa a escassez de dinheiro”. “Reforçamos para o que for preciso”, garantiu, durante uma das ações de limpeza do “Projeto Agir Naturalmente pela nossa Cidade”, no passado dia 21 de março.

Todavia, sendo intemporal, o debate não reúne consenso. Alexandre Delgado refere que “os graffitis artísticos são residuais, representam talvez menos de 1% daquilo que se escreve nas paredes. O resto são tags, são rabiscos, assinaturas, marcações do terreno – é um fenómeno ligado a gangs, a pequena criminalidade, que está a invadir o país inteiro”, diz. Segundo o músico e compositor da Fundação Gulbenkian, que publicou uma crónica no jornal Público sobre a temática, os tags demonstram uma tendência “completamente animalesca”, refletora de “pessoas sem horizontes“.

História

Com origem no período romano da Antiguidade Clássica, o graffiti moderno desenvolveu-se em Nova Iorque, associado a manifestações de delinquência com o intuito de marcar o território por parte de gangs. Com várias técnicas ou formas de expressão, desde o tag ao stencil, o graffiti desenvolveu-se, sendo, atualmente, considerado por alguns como uma forma de arte que, várias vezes, assume uma posição política associada a movimentos, causas ou manifestações.

Já João Teixeira Lopes, sociólogo e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), afirma que os graffitis vão contra um ideal de cidade “conservador“. Para o ex-deputado pelo Bloco de Esquerda à Assembleia da República, este tipo de arte urbana deve ser encarado como uma manifestação “legítima” de identidade.

Como solução contra a propagação dos tags e de graffitis que não considera artísticos, Alexandre Delgado propõe, entre outras medidas, a obrigatoriedade de participação dos writers na limpeza das cidades. Por sua vez, João Teixeira Lopes rejeita a posição – que diz ser repressiva – e afirma que “é preciso tentar percebê-los antes de os julgar”.

Um caso insólito

Junto ao Teatro Carlos Alberto, no Porto, situa-se uma loja de artesanato alternativo: a “The Portuguese Cock“. Um dia, Alexandre Queirós, o proprietário, deparou-se com um grafitti na fachada do seu estabelecimento. A estranheza deu lugar à curiosidade, já que o desenho era alusivo a um dos artigos que estavam à venda. Passada cerca de uma semana, a pintura foi retirada.

No entanto, o interesse fez com que o dono da “The Portuguese Cock” tentasse saber quem era o autor do graffiti. Apesar de não ter sido a autora da obra, Rafi reclama a autoria do desenho. Formada em Arquitectura, é a co-detentora da Dedicated Store, loja dedicada à comercialização de produtos relacionados com o graffiti.

A jovem aprendeu esta “forma de expressão” com Youth, o outro responsável pela loja e precursor do graffiti em Portugal. No entanto, refere que o processo foi difícil: “Quando se passa do papel para a parede, parece que já não se sabe desenhar”. “Eu achava que sabia desenhar, mas afinal não sabia desenhar nada de jeito e há uma fase de luta em que se tenta dominar a técnica, mas depois é recompensador”, conta.

Youth afiança que a influência chegou a partir dos filmes estrangeiros. O writer começou a sua prática em Carcavelos, cidade que viu nascer a cultura em Portugal, e descreve o graffiti como um “gosto que não dá para explicar , um vício”.