Ainda que com baixos níveis médios de qualificação face a outros países da Europa, Portugal ocupa a segunda posição na lista do número de candidatos a estágios na Comissão Europeia (CE), à frente de países mais populosos e qualificados. Os dados são relativos ao período de estágios com início em outubro deste ano e o aumento foi significativo: 2490 candidatos face aos 237 candidatos registados no período homólogo do ano anterior.

A subida determinou a ocupação da segunda posição na lista, uma vez que, no ano passado, o país havia ficado pelo 11.º lugar. Agora na segunda posição, Portugal foi somente ultrapassado por Itália, a primeira classificada. A crise e o desemprego são apontados como os principais fatores para este crescimento no número de candidaturas, já que o aumento se verificou em países em situação de crise, como são, realmente, os casos de Itália e Espanha (3.º lugar).

O que é preciso ter para lá chegar?

Ciência Política, Direito, Economia, Gestão, Relações Internacionais e Interpretação-Tradução são as áreas que permitem o acesso ao estágio. Segundo Fabíola Maciel, um currículo completo que “comprove a experiência” é distintivo.

Fabíola Maciel, licenciada em Ciências da Comunicação na Universidade do Porto (UP) e aluna de mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa, ingressou num organismo da União Europeia através da candidatura a um estágio para o Parlamento Europeu. Atualmente, trabalha no Gabinete de Informação do Parlamento Europeu em Lisboa e, segundo a própria, o contexto de crise e o aumento do desemprego jovem foram os motores do acréscimo na procura: “A necessidade aguça o engenho”, afirma, salientando a maior facilidade de acesso à informação e o maior interesse por parte dos jovens.

Ricardo Taveira Rodrigues, licenciado e também estudante de mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, submeteu a candidatura. Em entrevista ao JPN, afirma que o “processo é simples”. Todavia, de acordo com Fabíola Maciel, com o aumento do número de interessado, “os níveis de exigência passam a ser cada vez mais elevados”.

“Nunca a União Europeia esteve tão presente nas nossas vidas”

Para Ricardo Taveira Rodrigues, o motivo da candidatura deveu-se à “vontade de trabalhar num ambiente verdadeiramente europeu e avaliar de perto a edificação de uma demos europeia, ou seja, compreender em que medida esta assembleia está a contribuir para a criação de uma identidade verdadeiramente europeia”.

“Nunca a União Europeia esteve tão perto”, salienta Fabíola. “O que me levou a candidatar-me foi o facto de considerar que esta foi uma oportunidade fundamental para alargar o meu currículo e também de me aproximar da Europa”, afirma. Por sua vez, Ricardo acrescenta a motivação de “compreender as dinâmicas da construção europeia no dia-a-dia”.

O estudante deixa, ainda, a ideia de que existem assimetrias relativamente à rede de oportunidades de emprego no norte e no sul da Europa: “Os habitantes do sul deslocam-se para norte, enquanto que os do norte por lá se mantêm. As desigualdades estão desigualmente distribuídas no espaço”. Para o jovem, “só no momento em que o movimento dessa rede deixar de ser limitado geograficamente, é que poderemos falar numa consolidação da rede de oportunidades”.