A primeira revista russa dirigida a lésbicas chama-se “Agens” e chegou, recentemente, às bancas russas. Do latim, a palavra “Agens” pode ser traduzida para “poderosa”, e pretende afirmar-se, através de um estilo glamoroso e elegante, dentro de uma sociedade onde dois em cada três russos se consideram “hostis” ou “reservados” em relação à homossexualidade.

É neste contexto que a revista “Agens” decidiu entrar no mercado. A missão da revista é a de dar a conhecer, a mulheres, as histórias de outras mulheres que, independentemente da sua orientação sexual, conseguem ser profissionais bem sucedidas e não têm medo das suas escolhas. Em 120 páginas, “Agens” oferece conselhos para ter um cabelo mais bonito ou dicas sobre como “sair do armário”.

Porém, a revista não se quer associar ao ativismo gay, numa altura em que a homossexualidade é um dos assuntos em discussão na Duma (parlamento russo). Em causa está um projeto de lei, apresentado pelo deputado Vitaly Milonov, que condena toda a publicidade homossexual e pedófila com multas que podem chegar aos 500 mil rublos (12 500 euros). Quanto à publicação, Milonov diz que “não vai contra a lei, mas teria sido melhor se elas tivessem uma revista sobre gatos”.

A Rússia aos olhos de quem viveu lá

Com o tema em voga, o JPN falou com Yvette Angel, que cresceu e viveu na Rússia durante alguns anos. Hoje, dá aulas a alunos do ensino secundário, no Luxemburgo.

“A sociedade russa é mais conservadora em comparação à sociedade ocidental europeia. Ela vê na homossexualidade algo de não natural”, admite Yvette Angel, sublinhando também uma preocupação bastante presente na sociedade russa: a de que a natalidade esteja em risco. Mas temas como diferentes orientações sexuais ou doenças sexualmente transmissíveis nunca foram um tema tabu na educação, aliás, “eram lecionadas nas escolas”.

No entanto, Yvette acredita que a revista “Agens” vai sobreviver à homofobia russa, já que “existem muitas mulheres russas, lésbicas, que não vão parar de lutar pelos seus direitos”. Isso não significa que a revista consiga mudar a mentalidade da sociedade, “já que os russos têm a característica de ser muito ‘cabeçudos'” e de se “agarrarem firmemente às suas opiniões”, diz Yvette.