Um dos principais problemas de Vila Nova de Gaia é a dívida de 400 milhões. Como pretende combater este problema?

Em primeiro lugar, penso que esse não é o principal problema de Gaia. O principal problema é o desemprego, que ronda os 23%, quando, em Portugal, a média é de 17%. Para além disso, em Vila Nova de Gaia, cerca de 70% dos desempregados tem o 9.º ano ou menos. Ou seja, temos uma combinação explosiva que pode fazer com que, mesmo depois da crise, o desemprego não baixe. O meu objetivo é, também, pagar a dívida da forma mais expedita que puder. Existe uma parte da dívida que resulta da “máquina” que foi instalada no município, que é muito cara e temos de rever as estratégias de angariação de receita. Em Vila Nova de Gaia existem umas dezenas de supermercados, todos a pagar a derrama em Lisboa, porque a derrama paga-se na sede da empresa. Se a derrama fosse paga consoante a massa salarial paga pela empresa em cada concelho, existia uma maior distribuição.

E o desemprego? Como pensa resolver esse problema?

Em primeiro lugar, quero dizer que acho que o pior serviço que se pode prestar aos desempregados é fazer um discurso populista sobre o desemprego. Em primeiro lugar, para combater o desemprego é preciso garantir condições para manter o emprego existente.

“A candidatura adversária foi negociada em Lisboa pelo Miguel Relvas”

Eduardo Vítor Rodrigues falou, também, sobre a relação entre Porto e Vila Nova de Gaia e entre o Norte e Lisboa. Teve ainda tempo para abordar a candidatura de Carlos Abreu Amorim, do PSD.

O município não está em tempo, até porque tem uma dívida enorme, de financiar diretamente as empresas. Mas já que não pode financiar a atividade económica das empresas, pelo menos que atenue a gula fiscal que faz às empresas. Segunda questão – criar atratividade para novo emprego. Nós temos, como objetivo, criar dois grandes pólos em duas áreas muito definidas. A área do vinho e, em segundo lugar, as questões do ambiente e renováveis que, em Vila Nova de Gaia, são centrais. Agora, eu termino como comecei, nada disto pode ser feito sem um upgrade de qualificações da população ativa do concelho que, muita dela, infelizmente, mesmo a mais jovem, tem níveis de qualificação muito baixos.

Falou que é importante baixar as taxas e investir no ensino. Como é que isso se vai conjugar com o pagamento da dívida?

Em primeiro lugar, tudo indica que o próximo quadro comunitário europeu ainda vá ser mais ousado do que o atual, no que diz respeito às políticas de educação. A área da formação, da educação, da inserção sócio-profissional, tem sido uma área que, no país, se paga a si própria. Veja o caso das Novas Oportunidades, que era uma política do Governo, basicamente, financiada por fundos comunitários. Por isso, no que diz respeito as estratégias de recapitalização escolar dos indivíduos, não se tem, aí, grande esforço financeiro. Tem é um esforço institucional, mas isso não é uma coisa que se repercuta na dívida.

O festival Marés Vivas é outro dos pontos que tem atraído muitos jovens a Vila Nova de Gaia, principalmente no verão. A Câmara pretende continuar a aliar-se ao festival?

“O munícipio deve continuar a aliar-se ao Marés Vivas e ao Positive Vibes”

Claro. Se há coisa pela qual tenho sido criticado é dizer que a Câmara e Luís Filipe Menezes fizeram muitas coisas positivas. E isto parece que não faz parte das regras de marketing político. O festival Marés Vivas, como o festival de reggae – o Positive Vibes no Areeinho – são, de facto, organizações que têm esta imensa vantagem, que é darem uma dimensão regional, nacional, ao próprio município. A única coisa que penso que tem de ser equilibrada é que o esforço financeiro que a Câmara faz no Marés Vivas, não faz depois no tecido associativo local. É importante que o município tenha dois ou três momentos de referência na música, na arte e na cultura, ao longo do ano, mas não que não esqueça que há dinâmicas locais em Vila Nova de Gaia. É muito importante que exista esse equilíbrio, porque o Marés Vivas dura três dias e, nos outros 360 dias, o município continua a ter atividade económica, cultural e de lazer.

Não denota que Vila Nova de Gaia está muito centralizada no centro que é muito mais Mafamude, Santa Marinha e Vilar do Paraíso, e que o resto das freguesias estão esquecidas?

Acho. Essa é uma crítica que temos feito à gestão de Luís Filipe Menezes, que é muito uma crítica de orla marítima e de centro urbano. As freguesias do centro têm tido um investimento muito sério, mas esse investimento tem reproduzido a desigualdade no território de Vila Nova de Gaia. E sinto que este abandono das freguesias mais do centro levou a uma desvalorização simbólica das freguesias interiores do município. Significa que estamos a ter um crescimento completamente centrado nas freguesias mais urbanas do município.

Outro problema bastante comum, em Gaia, são os transportes. No centro, é possível viajar de autocarro e metro, por exemplo, mas, nas outras freguesias, é complicado viajar sem carro próprio. Como pretende resolver o problema?

“O alargamento do Andante a todo o município é uma prioridade”

Esse problema tem sido o assunto que mais me tem levado a falar, nomeadamente nas reuniões de Câmara. E porquê? Porque, aqui, a Câmara tem competências próprias. E, para mim, é inconcebível que estejam a acontecer duas coisas no município: primeiro, só uma pequena parte do município está abrangida, em termos de transportes, pelo sistema Andante. Qual o interesse do Andante? Além de ser prático, é muito mais barato. A nossa primeira exigência foi a generalização do Andante em todo o concelho de Vila Nova de Gaia, porque o Andante não é uma bilhética da STCP. O que não faz sentido é que 80% dos gaienses não possam usar o Andante que não seja no metro. Esta situação tem que ser resolvida rapidamente, porque significa uma poupança para as famílias muito séria. A segunda questão: não há muitas dificuldades em vir ao Porto, mas, ir de Avintes à Madalena, não é possível. O que é que está a correr mal? São os atravessamentos. Se os atravessamentos fossem um problema meramente simbólico, vivíamos bem com ele. O problema é que não é meramente simbólico. Tem a ver com os transportes escolares, por exemplo. Como é se garante que nas EB 2/3 os miúdos tenham transportes escolares decentes? Não têm. Por isso, temos aqui uma área decisiva que o município tem que assumir para si.

Existem estudos sobre novas travessias sobre o Douro. Acha que há necessidade?

“Uma ponte pedonal que ligue os centros históricos de Gaia e Porto é a única travessia relevante”

Não, não há. Essa foi uma proposta que o Luís Filipe Menezes fez, mas, do meu ponto de vista, a única coisa que é plausível, interessante e importante, é a construção da ponte pedonal que liga o centro histórico do Porto e o centro histórico de Vila Nova de Gaia. É a única travessia que eu sinto como relevante, porque é uma travessia de custo contido e com um potencial económico e turístico brutal. Mas ninguém está a espera que o papel do município, neste momento, seja o de construir obras megalómanas, mas que seja criativo na forma de dar resposta aos problemas que as pessoas vivem no dia-a-dia.