O dia 25 de abril de 1974 ficou eternizado para a história de várias maneiras, entre as quais através de cartazes que ilustram partes importantes da revolução que devolveu a voz ao povo e destituiu a ditadura.

Jorge Marinho é doutorado em Ciências da Comunicação e leciona na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), entre outras matérias, Semiótica e Psicossociologia da Comunicação. Em entrevista ao JPN, o professor analisa vários traços e aspetos que caracterizaram os cartazes da época.

Imagens de ordem

Em virtude do contexto em que estavam inseridos, o docente destaca “a vertente propagandista dos cartazes”, dividindo a análise entre a parte verbal e não verbal. “Os elementos verbais dos cartazes correspondem a slogans que também se faziam ouvir, como palavras de ordem, nas manifestações”, refere.

É o caso de frases emblemáticas como “O povo está com o MFA!” Ou versos da “Grândola, Vila Morena“. “Os slogans são curtos para facilitar a sua memorização”, explica. Mas, para o professor, a componente não verbal é “ainda mais importante, face a uma população com uma elevada taxa de analfabetismo”.

A ligação do povo com as Forças Armadas e o famoso menino com a espingarda

Na análise à grande maioria das mensagens que os cartazes transmitem, Jorge Marinho destaca aquilo que foi uma das chaves para a revolução: “A união entre o povo e o Movimento das Forças Armadas” (MFA) uma vez que militares e civis surgem lado a lado variadíssimas vezes.

O professor destaca ainda a presença dos símbolos: “São muito importantes nas revoluções e para além dos cravos temos a bandeira de Portugal, ou as suas cores, que sublinham o patriotismo da Revolução”, diz.

Quando se pensa nos cartazes do 25 de Abril, há um em particular que salta à memória de todos: o do menino a pôr o cravo na espingarda. “Por um lado, temos luz, uma criança e uma flor que é o símbolo do 25 de Abril”, descreve o professor, esclarecendo que “simboliza o movimento como pacífico e que a criança representa um futuro luminoso”. Do outro lado está, novamente, a conexão com os militares: “três braços que, conjuntamente e firmemente, seguram a espingarda, mostrando a sua ligação às Forças Armadas Portuguesas”, explica.