Jorge Polónia, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), analisou o panorama nacional e conclui que 42% dos portugueses com mais de 18 anos sofrem de hipertensão. Cerca de 5,8%, são jovens com menos de 30 anos.

A Hipertensão

A hipertensão arterial é uma das doenças que mais afeta os portugueses. A alta pressão sanguínea nas artérias é um fator de risco para acidentes vasculares cerebrais, enfartes ou aneurismas arteriais. Jorge Polónia explica que os “hábitos menos saudáveis levam ao desgaste dos órgãos e dos vasos sanguíneos e com a idade aumenta a prevalência da hipertensão”. O investigador acrescenta ainda que “os valores são preocupantes e representam um problema grave de saúde pública”.

A maior parte dos jovens hipertensos não sabe que sofre da doença. Entre a população analisada, com menos 30 anos, apenas 31% conhecia ser portador. O investigador da FMUP afirma que “mesmo os que sabem que deviam ser tratados não o fazem e descuram a medicação”. Além disso, seguem “padrões alimentares que trazem grandes riscos, como por exemplo, a fast food com sal.”

Pedro Maciel tem 27 anos e sofre de hipertensão. O jovem, que já tinha antecedentes genéticos, conta que a doença trouxe “uma mudança drástica diária, devido à medicação e aos cuidados com a alimentação”. Pedro explica que, antes de ser medicado, sentia “falta de ar, aperto no peito e cansaço fora do normal”, mas define a hipertensão como “uma doença silenciosa que, sem exames, dificilmente se descobre”.

Sobre o sistema de rastreio, Pedro Maciel tece algumas críticas ao Sistema Nacional de Saúde (SNS): “Para descobrir que era hipertenso tive de ir a um sistema de saúde privado, porque no público os exames eram sempre inconclusivos”, conta.

16% das crianças e adolescentes sofre de hipertensão

Apesar de a doença aumentar com a idade, a hipertensão arterial existe desde tenra idade. O cardiologista João Maldonado analisou 10 mil crianças e adolescentes e descobriu que cerca de 16% tinha valores de tensão arterial acima do normal.

Ao JPN, o investigador explica que este é um número altíssimo e resulta da “enormidade de ingestão de sal e do aumento da obesidade infantil”. Para além disso, afirma que, anteriormente, os dados de hipertensão em crianças eram diferentes porque muitos aparelhos de análise eram inapropriados.

Para além de ser mais comum em idosos do que em jovens, a predominância da doença é maior em homens do que mulheres. Fernando Pinto, Presidente da Sociedade Portuguesa de hipertensão (SPHTA) defende que as hormonas femininas formam uma defesa contra a subida das tensões arteriais. Jorge Polónia diz que tudo indica que o ciclo menstrual previna a doença, porém, depois da menopausa, “esse efeito desaparece ou até se inverte”, alerta o investigador do FMUP.

Uma doença com várias causas

A hipertensão é uma doença com causas genéticas e ‘ambienciais’. Fernando Pinto explica que para além da carga genética, “o excesso de consumo de sal, a obesidade, e a falta de exercício físico são as principais causas de hipertensão”. Jorge Polónia afirma que “em países onde as pessoas têm hábitos mais saudáveis não existe tanta hipertensão”.

Em Portugal, cada português consome em média 10,7 gramas de sal por dia. Jorge Polónia afirma que “se os portugueses baixassem o consumo de sal para 5,8 gramas de sal por dia, se aumentassem o exercício físico e se se controla-se a obesidade desde a infância, o risco de hipertensão seria bem mais baixo”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha mesmo um consumo inferior aos 5,1 gramas.

Segundo a Associação Americana para o Coração (AAC), o consumo de sal está ligado a 15% das mortes cardiovasculares, em 2010 este número representou 2,3 milhões de casos. Mas para além dos hábitos alimentares e do exercício físico, o stress pode também ser uma causa para o aumento da tensão sanguínea nas artérias.