Miguel Esteves Cardoso acaba de lançar o livro de crónicas “Como é Linda a Puta da Vida” e de reeditar “A Causa das Coisas”, “O Amor é Fodido”, “Os Meus Problemas” e “Explicações de Português Explicadas Outra Vez”, agora, “casado” com a Porto Editora.

O novo livro de crónicas e o regresso tão aclamado de MEC (como é carinhosamente tratado) mereceu o convite para a 17.ª edição do “Porto de Encontro“. A conversa estava agendada para as 17h de sábado e começou apenas alguns minutos depois.

O público ia chegando ao auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett e sentava-se onde podia. Depois de ocupadas todas as cadeiras do auditório, as escadas e os corredores também serviram de assento. Ouvia-se “Hey Jude”, dos Beatles, quando Miguel Esteves Cardoso entrou na sala acompanhado da mulher, Maria João Pinheiro, que se sentou na primeira fila.

Sérgio Almeida, jornalista do Jornal de Notícias e moderador do debate, começou por descrever MEC como “uma estimada figura pública conhecida pela acutilância dos seus escritos”. O autor considerou “comovente” a presença de tantos curiosos e não deixou de elogiar a Invicta. “O Porto é sinónimo de franqueza e honestidade”, referiu, acrescentando que se sente um “homem do Norte”.

Leituras, redes sociais e “gadgets”

Miguel Esteves Cardoso lê tudo, desde os jornais e revistas internacionais no tablet a alguns exemplares em papel. Além disso, não lhe escapam “os cornflakes, a vacinação do gado e os avisos de trânsito”, disse, brincando.
Depois do “casamento” com a Porto Editora, Miguel Esteves Cardoso criou uma página no Facebook (que já conta com mais de cinco mil seguidores). Tardou “porque achava o Facebook piroso”, mas chegou. Durante a fase mais complicada da doença da mulher, MEC percebeu a importância da rede social e recebeu, através dela, várias demonstrações de carinho de desconhecidos.

A beleza do Porto na primavera foi outro dos pormenores a que fez referência. Para o autor, “Matosinhos é Las Vegas do peixe, um paraíso” e não teve papas na língua quando disse que, no Porto, há sítios lindos com nomes horrendos. Deu exemplos como o “Jardim do Carregal”, a “Igreja de Cedofeita” ou “Massarelos”. O tom brincalhão de MEC arrancou gargalhadas à audiência.

A escrita e as crónicas

MEC escreveu o seu primeiro livro aos seis anos e defende que se escreve “quando se corresponde ao que se quer e se imagina, quer se queira quer não”. O autor, que além das crónicas já escreveu romances, peças de teatro, letras de canções e uma ópera, defende que “as crónicas são sobre sentimentos” e “as mais bonitas e mais duradouras são as intemporais que falam de amor e de saudade”.

Curtas. Assim são as crónicas de MEC. “Nunca houve uma instância em que cortar não melhorasse o texto”, referiu. Ainda assim, é um género literário “muito difícil de escrever”. Maria João, casada com Miguel Esteves Cardoso desde 2000, leu “Sonho de Escrever” e “O Mundo Incompleto”, duas crónicas do novo livro do marido. É também no novo livro “Como é Linda a Puta da Vida”, que MEC escreve sobre a doença da mulher.

Miguel Esteves Cardoso chegou a receber críticas por escrever sobre o cancro da mulher. O autor respondia: “A minha mulher está a morrer. Como é que eu posso não escrever sobre isso?”. Para o escritor, “o íntimo é humano. Nada é demasiado íntimo. As coisas mais bonitas são íntimas”.

Sentimentos à flor da pele

Enquanto, por um lado, um dos temas centrais da conversa foi a doença oncológica de Maria João, por outro, MEC não se conteve no tom jocoso, na ironia e no bom-humor durante mais de uma hora e meia de conversa.

O público, que foi convidado a intervir mais do que é habitual, partilhou experiências, fez elogios e esclareceu dúvidas. Uma delas (“Como é que percebeu que queria ser escritor?”) foi o mote para a leitura da crónica “Isto de escrever”. “Esta crónica foi feita no Porto e é no Porto que a vou ler pela primeira e última vez”, disse MEC, levantando-se.

Falou-se de cancro, de amor, de jornalismo, de livros, de música, de arroz doce quente e das maravilhas do alho nacional. Miguel Esteves Cardoso emocionou o público do primeiro ao último segundo e foi aplaudido por uma plateia sem idade.