No fim da conferência que deu, esta quinta-feira, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), James Kakalios, o professor de Física da Universidade do Minnesota, nos EUA, que explica, com exemplos de poderes de super-heróis, várias matérias da disciplina que leciona, foi “desmascarado”.

Sim, todos os que estiveram presentes descobriram o seu “super-poder”. E se este artigo fosse um livro de banda-desenhada (BD), ou melhor, um comic book, seria uma revelação para a última página, ou, provavelmente, só para o número seguinte. Mas tendo em conta que, na manhã desta sexta-feira, Kakalios também já esteve na Faculdade de Ciências (FCUP) para outra conferência, são poucos os que ainda não sabem. Pois bem…James Kakalios tem a habilidade de levar qualquer pessoa às gargalhadas.

Com vários jovens no auditório, participantes da Universidade Júnior, Kakalios começou por perguntar: “Quem é que daqui ainda não está na Faculdade?”. Vários braços levantados e, logo depois, a primeira tirada desconcertante da tarde: “Muito bem, todos os outros podem agora dormir um pouco que é para estes que eu vou falar”.

Uns exames muito divertidos

“Como o seminário que organizo recebe alunos de todas áreas, se fizesse um exame sobre Física, as equações seriam muito difíceis ou muito fáceis. Portanto, o que fazemos é o seguinte: pedimos a cada aluno que escolha um super-herói e alguma característica que ele tenha, para ser analisada do ponto de vista científico. Há quem escolha, por exemplo, o Wolverine e a sua capacidade para sarar rapidamente”, e por aí fora, explica James Kakalios ao JPN. Mas, mesmo assim, estes estudantes precisam de super-poderes para passar no exame? A resposta de Kakalios, um “nice guy” (tipo porreiro), é esclarecedora.

O objetivo era, no fundo, explicar aos mais novos em que é que consistia a Física, na eventualidade de algum ter interesse na área. Tudo para que o primeiro impacto com a disciplina fosse mais realista do que aquele que Kakalios teve. “A primeira vez que li alguma coisa sobre Física foi na BD ‘Action Comics #333‘. Escusado será dizer que o que me marcou mais foi a capa do livro e não a Física, porque, naquela altura, fiquei com a ideia de que todos os professores de Faculdade usavam estes chapéus quadrados e eram todos velhos pré-históricos de cabelos brancos”.

Magneto, uma rã que levita e o inocente Homem-Aranha

Depois de algumas explicações mais técnicas sobre a ciência que estuda, o professor norte-americano acabou por chegar aos super-heróis e à relação que os seus poderes têm com a realidade. O primeiro foi Magneto, vilão dos X-Men, que demonstrava, numa BD, conseguir voar ao usar o seu poder contra o campo magnético da Terra. Será possível? Depois de algumas explicações técnicas, James Kakalios concluiu que, pelo menos, é possível levitar, já que até uma rã o consegue fazer (Kakalios mostrou este vídeo).

“Sentido de Físico”

Além de professor e autor de algumas obras, James Kakalios também trabalhou como consultor científico nos filmes “Watchmen” e “The Amazing Spider-Man”. Questionado pelo JPN se, depois de começar a exercer essa função, passou a estar mais atento às “falhas” científicas dos filmes de super-heróis em que não está envolvido, Kakalios respondeu com o sentido de humor habitiual: “Não, não. Até podia ir para o cinema com um bloco de notas e dizer: ‘Ah, o meu sentido de Físico está a alertar-me!’. Mas não, não faço isso”.

Seguiu-se o Homem-Aranha e a polémica edição 121, de 1973, em que Gwen Stacy, a namorada de Peter Parker, morre, depois de o próprio Homem-Aranha lhe lançar uma teia para a agarrar, no momento em que caía de uma ponte. O Duende Verde (vilão do Homem-Aranha), nessa BD, acusa o super-herói de ter matado a jovem. Mas, depois de alguns cálculos de James Kakalios (mais tarde divulgados pela imprensa norte-americana) à volta das leis do movimento de Newton, é possível concluir que a relação entre a velocidade a que Gwen caiu e a paragem repentina que sofreu no momento em que a teia a apanhou fez com que o seu pescoço se partisse, tendo sido involuntária a ação do herói.

Num comic book posterior às conclusões de Kakalios, a Marvel colocou o Duende Verde a abordar de novo a situação, mas desta vez desculpabilizando o Homem-Aranha. “Se consegui ensinar as leis do movimento de Newton a um assassino, já me dou por feliz”, disse o Físico, soltando gargalhadas na plateia. Depois destes casos, Kakalios expôs outros, que envolveram, por exemplo, dois dos seus super-heróis preferidos, tal como revelou ao JPN: The Flash e The Atom (este com a particularidade de ter a mesma profissão de Kakalios, como alter-ego).

No entanto, todos eles serviram para demonstrar que, muitas vezes, os livros de BD utilizam corretamente a Física na hora de aplicar os poderes dos super-heróis. No sentido contrário, a conferência serviu para demonstrar que James Kakalios é um “nice guy” (ver caixa) que utiliza corretamente os poderes dos super-heróis na hora de aplicar a Física. O seminário que criou “ajuda os alunos a sentirem-se mais à vontade para perguntar, estudar e falar sobre a matéria”, afirma Kakalios.