Chocolate de leite, negro, branco, com pedaços, chocolate com recheio de morango… Há variedades de chocolates para todos os gostos e vícios. Será que podemos falar de vício ou de dependência em relação a este alimento?

“Não é descabido falar-se de dependência de chocolate”, explica o docente da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto (FPCEUP), Fernando Barbosa. “A ingestão de alimentos ricos em açúcares e gorduras contribui para a libertação de um neurotransmissor designado serotonina, que desencadeia sentimentos de satisfação e de bem-estar”, acrescenta.

Esta associação vai provocar um hábito que impulsiona novos consumos de chocolate para que tenhamos novamente uma sensação de bem-estar. Existe até mesmo, segundo o docente, “uma espécie de síndroma de abstinência”, quando o consumo não é saciado.

Chocolate atua como “indutor natural de prazer instantâneo”

Mas não é apenas a serotonina que desencadeia a vontade de comer chocolate. Este alimento “contém diversos ingredientes bioativos, vários dos quais capazes de interferir no funcionamento fisiológico em geral e cerebral em particular, designadamente na ativação de mecanismos neuroquímicos e na libertação de neurotransmissores que regulam o humor e o estado emocional”, esclarece Fernando Barbosa.

Quando estamos mais ansiosos, com stress ou depressão, temos mais apetência para consumirmos chocolate. A razão é simples: “Ele atua como um indutor natural de prazer instantâneo”.

A feniletilamina, presente em pequenas quantidades no chocolate com maior percentagem de cacau, “tem efeitos similares aos das anfetaminas, provocando a libertação de dopamina nos circuitos de prazer do nosso cérebro”, acrescenta o docente.

A anandamida, um neurotransmissor que mimetiza os efeitos dos compostos psicoativos da canábis, como o alívio da dor ou sensações de fome, é uma outra substância presente no cacau.

As pessoas mais dependentes do chocolate podem, em caso de privação, sofrer de “craving“. Trata-se de um desejo muito difícil de controlar, semelhante ao que acontece em casos de dependência de drogas.

O que vários investigadores defendem

Contudo, Fernando Barbosa salvaguarda que, para a maioria dos investigadores, o chocolate não provoca uma verdadeira adição. O consumo abusivo de chocolate faz-se mais por dependência psicológica e não pelo cérebro estar dependente de determinadas substâncias. Isto porque os compostos referidos estão presentes neste alimento em quantidades muito pequenas que são metabolizadas ainda antes de chegarem ao sistema nervoso central.

O desejo de consumo do chocolate pode estar mais ligado às “qualidades sensoriais como a cor, aroma, textura e sabor agradáveis e também pelo valor social positivo”, remata o docente.