Talvez o dérbi lisboeta de futebol tenha influenciado os visitantes, uma vez que, quando os Heart Invaders começaram a sua atuação no palco Ritual, ainda eram poucos aqueles que se encontravam no recinto.

A banda de Pedro Adriano Carlos debitou riffs rock bastante musculados mas muito dançáveis. O vocalista pergunta se o público quer “ouvir rock ‘n’ roll” e, ao nosso lado, alguém responde: “É pena é não cantares em português!”.

O rock não está morto

A música parece agradar mais ao público masculino, seja de que idade for. A prova é um miúdo com quatro anos, que enverga uma camisola dos Ramones. Com o abanar de ancas e a alta temperatura que se fazia sentir, o frontman ofereceu água ao público à medida que os seus Heart Invaders deram um bom concerto para abrir a noite.

No palco principal Os Poetas tomam posse. O grupo foi criado por Rodrigo Leão e Gabriel Gomes, que tocam piano e acordeão, respetivamente, e são acompanhados por violino e violoncelo. E para uma banda diferente, um público diferente: mais velho, mais respeitador e sofisticado, mas nem por isso mais contido.

O espetáculo é feito, em metades iguais, de música e poesia. Os poemas, “palavras de vida e palavras de morte”, gravados, de Mário Cesariny, Herberto Helder ou Adília Lopes são acompanhados por sonatas e valsas outonais que as mais desinibidas dançam. No entanto, é quando o ator Miguel Borges entra em palco para declamar alguns dos textos, que o espetáculo atinge o pico.

É nestes momentos que a teatralidade é incorporada e é também aqui que surgem as maiores ovações por parte do público que se encontra, em grande parte, sentado. Ainda que a música d’Os Poetas seja mais indicada para concertos em sala fechada, esta foi uma aposta ganha.

O momento mais morno da noite ficou a cargo dos Little Friend. John Almeida é a mente por detrás do projeto e é ele que dá inicio à atuação ainda sozinho. Já como trio, vão arrancando aplausos sinceros mas frágeis – como a voz do cantor. A folk guia-nos por paisagens bucólicas, mas é só quando “se armam em rockeiros”, como confidencia o estratega do grupo, que o público se expressa mais fortemente. Uma falha no som do palco também não ajuda a que o concerto se transfigure, ainda que o trio tenha mostrado enorme simpatia e felicidade por “tocar em casa”.

Virgem Suta com coro em uníssono

Era então altura de aproveitar o último concerto da noite, que ficaria a cargo dos alentejanos Virgem Suta e é com um “Boa noite família!” que o grupo se dirige ao público. “Estamos todos juntos na sala de estar, ou na cozinha, que é ainda melhor, a tirar minis do frigorifico”, diz o vocalista, enquanto brinda com um copo de vinho – que o baixista oferece também àqueles que se encontram na primeira fila – com o palco decorado com uma enorme janela ao fundo.

Tudo acontece durante “Dança de Balcão”, com o público entoar em uníssono a letra “Brinde a nós”, algo que se voltaria a repetir em “Linhas Cruzadas”, uma vez que “não há a menina gira para cantar a parte dela”. É ainda com “Absolutamente”, de Carmen Miranda e “Playback”, de Carlos Paião que o público dança, em festa, como se de um arraial ou de uma romaria se tratasse.

O encore teve três temas fortes: “Mula da Agonia” primeiro, e depois, já com dezenas de pessoas do público a partilhar o palco com o grupo, “Tomo Conta Desta Tua Casa” e “Vóvó Joaquina”.

Terminado o concerto da banda alentejana, que garantiu já sonhar há muito com o concerto neste festival, chega ao fim a 22.ª edição das Noites Ritual. Ainda que com menor adesão que no ano anterior, o ritual cumpriu-se!