Investigadores de universidades em todo o mundo têm procurado mostrar aos mais céticos que a meditação ou mindfulness tem benefícios e que estes podem ser medidos em estudos científicos, utilizando inclusivamente exames como a ressonância magnética.

Consideradas como “a terceira geração na tradição Cognitivo-Comportamental” (Kabat-Zinn, 2003), “as intervenções terapêuticas baseadas no mindfulness têm vindo a demonstrar eficácia num amplo número de problemas clínicos, desde psoríase, dor crónica, défices imunológicos, até problemas psicológicos como perturbação de ansiedade generalizada, perturbação do comportamento alimentar, perturbações do espetro obsessivo, ou depressão recorrente” (e.g., Baer, 2003; Grossman et al., 2004; Shigaki et al., 2006).

Quem o diz é Sandra Vilarinho, doutorada em Psicologia e investigadora de pós-doutoramento na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Ciente de que a sociedade ocidental continua a encarar com alguma desconfiança algumas tradições com raízes orientais, como é a meditação, a psicóloga sublinha que os meios académicos estão cada vez mais interessados neste tema, tendo em conta a evidência já apresentada.

De facto, continua, “vários estudos mostram modificações funcionais, na forma como a mente opera e na qualidade da atenção, e estruturais, isto é, modificações nas estruturas corticais, com espessamento de áreas cerebrais relacionadas com a atenção e diminuição da atividade da amígdala, mais associada às nossas emoções”.

Treinar a mente

Mas, afinal, no que consiste esta prática? “O mindfulness assemelha-se a um relaxamento, mas em atenção plena. Pode definir-se como a prática de treinar a mente para focar e tornar consciente o presente, dirigindo a atenção, de forma intencional, e sem qualquer julgamento, para os próprios pensamentos, emoções, sensações e ações às quais habitualmente não se dedica muito tempo, como respirar, caminhar, comer, entre outras”, explica Sandra Vilarinho.

Na sexualidade, “esta abordagem parece ter benefícios em termos de promover a ligação corpo-mente, de ajudar a prestar maior atenção ao corpo e às sensações corporais, incluindo excitação e prazer – neste sentido, contribui também para experiências sexuais mais gratificantes; em situações de disfunção sexual, além de melhorar a resposta sexual (desejo e excitação), pode facilitar a relação com pensamentos disfuncionais e emoções negativas associadas. Nas situações de dor sexual, é particularmente útil, na medida em que ajuda a lidar quer com a dor e sua interferência, quer com a resposta sexual problemática”.

Um dos estudos citados pela investigadora, da autoria de Lori Brotto, debruçou-se sobre mulheres que tinham tido problemas oncológicos e que subsequentemente apresentaram problemas sexuais.

Sandra Vilarinho segue-lhe as pisadas. “O meu estudo de pós-doutoramento visa comparar a eficácia clínica da abordagem cognitivo-comportamental versus a abordagem baseada no mindfulness em mulheres com dificuldades de desejo e excitação (com diagnóstico clínico e sem diagnóstico)”, indica. Este é o primeiro estudo do género a realizar-se em Portugal.