Fernando Martinho é professor na Escola Profissional de Economia Social do Porto (EPES), que detém o curso de Segurança e Salvamento em Meio Aquático, um dos responsáveis da Associação Nacional de Salvamento Aquático (ASNASA) e um dos primeiros nadadores-salvadores do país.

Com a criação da associação, começou a preocupar-se mais com uma “formação profissional e qualificada” dos nadadores salvadores. “Fomo-nos apercebendo das insuficiências da situação para os riscos que corriam as pessoas e nós próprios [nadadores-salvadores]”, explica Fernando.

Material exigido

Segundo a legislação vigente desde setembro de 2008, cada posto de praia, deve ser constituído pelos seguintes materiais e equipamentos homologados pelo Instituto Nacional de Socorro a Náufragos (ISN):
a) Cercado de protecção;
b) Armação de praia;
c) Mastro de sinais;
d) Bandeiras de sinais;
e) Bóia circular;
f) Bóia torpedo;
g) Barbatanas – pés de pato;
h) Cinto de salvamento;
i) Prancha de salvamento;
j) Carretel;
l) Vara de salvamento;
m) Mala de primeiros socorros
Os equipamentos são fornecidos aos nadadores salvadores pelos concessionários responsáveis pelas praias e fiscalizados pelas respetivas capitanias.

O objetivo é “afogamentos zero”

Uma delas prende-se com o material disponibilizado: “O equipamento de salvamento que têm nas praias só serve para tirar fotografias”, garante Fernando. “O mar tem uma coisa chamada marés”, explica, “com um metro de água já se pode ter problemas e é água suficiente para a pessoa desaparecer. Aos cinco metros, com o mar revolto, o nadador salvador deixa de ter visibilidade e já é muito complicado ir a nadar, em apneia, buscar a pessoa”.

Por isso, em situações mais complicadas, “se houver um afogamento ou for preciso recolher cadáveres, passado meia hora vê aparecer motas de água, mergulhadores, pessoas qualificadas, pessoal aéreo… só que isto tem de estar tudo meia hora antes”, esclarece. O objetivo é “afogamentos zero”.

Mas apesar de a associação já existir desde 1877, ainda não alcançou o pretendido: “Pessoas a treinar, com formação, uma praia com planeamento, um quadro superior e intermédios, motas de água, barcos e afins”. Um cenário mesmo à “Marés Vivas”, que tem de facto “muito romance, mas também tem muita realidade”, garante o professor.

“É impossível ter em cada praia um helicóptero”

Nuno Leitão, Comandante do ISN, garante que “o material disponibilizado é o adequado”. “Nós somos considerados um dos países do mundo de referência no que diz respeito ao material alocado aos nadadores salvadores”, diz. “É impossível ter em cada praia um helicóptero, ou agregar a cada praia um hospital”, sublinha. Já “ter uma mota em água em cada praia”, por exemplo, é “uma irrealidade”.

Fernando, por sua vez, acredita que “uma vida vale mais que o investimento” e diz que este poderia ficar aquém do esperado, já que é tudo uma questão de “posicionamento”: muitos dos meios “já existem” – só “não estão perto” dos espaços aquáticos. E o ex-nadador salvador não perde a esperança: “Vai haver uma evolução pela qualidade e não pela obrigatoriedade”, já que as pessoas vão percebendo que “se trata de vidas”. “Há concessionários que, em conjunto com associações de nadadores salvadores, já vão investindo em novos meios e equipamentos de salvamento. Motas de água, sistemas de comunicação e afins”, conta.

Nadadores salvadores têm “pouca capacidade de resposta”

Mas outra questão tem suscitado debate no meio: a formação dos nadadores salvadores. Fernando acredita que, com a formação que têm, os nadadores têm “pouca capacidade de resposta”. “Há praias e praias. (…) Numa piscina ou numa praia plana, só preciso de um indivíduo que saiba mergulhar e apanhar alguém, mas se as coisas complicam, não”, explica. “A solução tem de corresponder à complexidade do espaço aquático”, afirma.

“O mar tem uma coisa chamada marés”, explica Fernando. “Aos cinco metros, com o mar revolto, o nadador salvador deixa de ter visibilidade e já é muito complicado ir a nadar, em apneia, buscar a pessoa. Se for a mais, é quase impossível e é preciso recorrer a mergulhos assistido com garrafas”, para o qual não têm formação.

“Portugal é um dos países do mundo com menor taxa de mortalidade por afogamento”

Diogo Mariz, com 24 anos, tirou o curso de nadador salvador aos 19 anos. Foram quatro horas por dia, todos os dias, durante um mês. Atualmente a trabalhar numa praia em Matosinhos, depois de Vila Nova de Gaia, admite que “quando se sai do curso não se sabe tudo o que é necessário fazer na praia”, mas também que se vai aprendendo com a experiência e é uma óptima ajuda “trabalhar com pessoal mais velho no primeiro ano”.

O ISN também não tem dúvidas: “A formação é adequada para o tipo de costa que temos e para a padronização de situações que os nadadores salvadores enfrentam”, garante Nuno Leitão. “Claro que o ideal seria nós termos na praia um médico, campeão de natação e com outras valências e mais algumas”, ironiza. “Mas a prova que a atual formação chega é que, como o ministro da Defesa, Aguiar-Branco referiu na passada quarta-feira, Portugal é um dos países do mundo com menor taxa de mortalidade por afogamento nas praias”.

Segundo dados da instituição, reveladas recentemente por Nuno Leitão em conferência de imprensa, foram onze as pessoas que morreram este ano nas praias portuguesas, entre 1 de maio e 31 de agosto, sendo que apenas duas das mortes ocorreram em praias vigiadas.