A designação da conferência – “Public Service Media in a Small Country with a Global Culture” (“Meios de comunicação de serviço público num país pequeno com uma cultura global”) – que decorreu esta sexta-feira na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) pressupunha a discussão da conduta de vários meios de comunicação. No entanto, o período conturbado que, nos últimos tempos, a RTP tem atavessado, fizeram do canal de televisão português o principal tema de conversa.

Para isso muito contruibuíram as presenças de Beato Teixeira, membro do Conselho de Administração da RTP, e de José Lopes de Araújo, diretor de Assuntos Jurídicos e Institucionais do canal. Este último afirma mesmo que “a RTP está habituada a viver sob pressão”. Além disso, acredita que a tecnologia está contra o serviço público, uma vez que o aparecimento de sites como o YouTube fizeram mudar o comportamento das audiências. Por sua vez, Beato Teixeira defende que a RTP tem de continuar a diferenciar-se e a fazer mais e melhor do que esses serviços, ao “criar, agregar e distribuir conteúdos”.

Devemos acabar com o serviço público?

Karen Donders, professora na área da comunicação na Vrije Universiteit Brussel (VUB), Bélgica, esteve na FEUP para ajudar a clarificar algumas questões. A docente diz que não seria benéfico o serviço público acabar, pois as televisões não só informaram e entretiveram o público, como também inspiraram. Karen Donders vai mais longe, ao afirmar que o serviço público será mais importante do que as televisões públicas.

A especialista fez referência para a pressão a que a televisão pública europeia está sujeita. Devido às mudanças tecnológicas, económicas, políticas e nas próprias audiências, a televisão tem sido mais questionada do que nunca. Mas a docente também realça a tendência das televisões públicas se protegerem e a sua dificuldade em mudar.

O administrador da estação pública descreve ainda os desafios que a RTP tem de enfrentar atualmente. O primeiro diz respeito a questões financeiras, uma vez que em 2014 o canal irá receber menos 89 milhões de euros do Estado e a publicidade na televisão caiu 50%. As novas tecnologias, a par da televisão por cabo, levam à diminuição das audiências, e o aumento da competência neste meio de empresas como a Amazon, a Google e a Netflix são, também, obstáculos para a RTP.

Então o que vai mudar?

O novo contrato entre a RTP e o Estado estabelece a criação de um Conselho Geral Independente que tem como funções designar a nova administração do canal e fiscalizar aquilo que o serviço público está a fazer. O objetivo é impedir que o Governo tenha uma intervenção direta na RTP.

No contrato também está estabelecida a participação de nove pequenas e médias empresas portuguesas que vão desenvolver soluções para o canal; um maior foco na web, com a implementação de soluções para a educação e a reestruturação do arquivo histórico; a produção de programas externos.

Júlio Magalhães, outro dos conferencistas presentes, diz que o serviço público faz sentido e que “a RTP é o canal que está em melhores condições para ser a televisão generalista de excelência em Portugal”. Mas, para o diretor do Porto Canal, nem mesmo a RTP é um canal nacional, uma vez que as televisões têm tendência a aproximar-se do Governo central.