Terça-feira, 29 de outubro, começou com uma partilha de experiências e conhecimentos de Nancy Schiesary, da Universidade do Texas. Além de professora, a convidada é diretora de fotografia de inúmeros documentários e filmes presentes em canais como a BBC, ABC, National Geographic, England’s Channel 4 e PBS.

Nancy começou por ser estudante de pintura, mas decidiu trocar as tintas pela luz no cinema, nos anos 70. Conta que, quando começou o seu trabalho na sétima arte, era tudo muito ortodoxo e teve de fazer um grande esforço para ultrapassar esse obstáculo.

Para a artista, a aprendizagem para um bom documentário deve ser feita através da experiência na rua e a câmara deve ser “um instrumento para chegar ao coração das pessoas”. Revelou que os projetos na área do cinema e do documentário envolvem, na sua maioria, três coisas: muito dinheiro, uma grande equipa e três a sete anos investidos em todo o processo.

Nas suas filmagens, Nancy inspira-se na magia do momento e tenta usar a luz, o tempo e a memória da melhor maneira. Faz até uma comparação entre o silêncio da filmagem e o momento em que vai nascer um bebé. Admite também que as ferramentas digitais são uma mais-valia e que o Youtube “revolucionou por completo” a capacidade do cidadão comum ser produtor.

Na apresentação do seu trabalho “Tattooed“, Nancy falou sobre os soldados dos EUA que se tatuam, fazendo uma comparação do seu corpo com o antes e o depois de voltarem da guerra. No final, falou de projectos como o “Canine Soldiers“, em que se interroga sobre a relação da vida militar com os animais: “Se as pessoas não se importam de morrer, será que se importam se for um cão a morrer?”.

Vários workshops vão acontecer até sábado

Não há lugar para a inatividade ou apatia no Future Places e o dinamismo e a interação com o público foram constantes, o que demonstrou uma iniciativa feita de experiências. O designer Pedro Cardoso foi o primeiro a dar o conhecer o projeto “Games to the People”, um workshop assente na exploração da plataforma Blender – um site em que é possível criar e modificar criações 3D, onde se destacam os videojogos. Para aficionados e leigos na matéria, o workshop está aberto a todos que nele pretendam integrar.

Em “Silent Objects”, o designer de comunicação Pedro Almeida propõe olhar de forma diferente para os objetos. Abrir caminhos de interpretação é o objetivo de um workshop, que vai efectuar um circuito por toda a cidade. Em volta dos objetos serão construídas histórias através da imagem e do som, o que coloca um ponto final ao que muitos consideram o “lixo cultural”.

Rita Sá, uma estudante de doutoramento, apresentou o laboratório “Action Figures Stop Motion”, onde o processo criativo é feito nas ruas. Já aconteceu na 30 de outubro e vai repetir-se a 1 de novembro. Os participantes deste projeto serão presenteados com um kit repleto de figuras abstratas e o objetivo é enquadrar cada uma dessas figuras no espaço urbano e fotografá-las [ver fotogaleria].

A Rádio Manobras, talvez um dos grandes pilares do evento, também mereceu uma apresentação. Hélder Sousa explicou o conceito daquela que é a primeira rádio comunitária do país e garantiu que a interação com as atividades está assegurada. Os presentes no auditório foram ainda convidados a participar num micro programa radiofónico, em que todos gritaram em uníssono “Manobras Futuras!”.

Também o fotógrafo Luís Marques tem documentado o Future Places e propõe nesta edição que os participantes, sejam “tábuas rasas da fotografia” ou não, tragam as suas máquinas e tenham a liberdade para trabalhar. O parque de estacionamento na Praça Coronel Pacheco será o terreno de ação deste workshop, onde não haverá lugar para teoria. O importante será interpretar os resultados de um lugar, que como admitiram, não é propriamente “fotografável”.

Daniel Brandão, designer gráfico que tem, nas palavras de Heitor Alvelos, demonstrado “uma espantosa dedicação ao Future Places”, apresenta, por fim, “Museum of Ransom: What Next?”. Uma atividade que trata de “resgatar” os registos de dispositivos de armazenamento e compilá-los num museu. A finalidade será criar novas narrativas através da edição dos registos, com conteúdo próprio ou já utilizado.

Estas atividades decorrem em vários locais do Porto, com especial enfoque no edifício da UPTEC, na Praça Coronel Pacheco e surgem no âmbito do Future Places, designado este ano como um media lab, que acontece até 2 de novembro.