Todos nos lembramos dos cenários de determinados programas de televisão que ficaram para a história, não só pelo seu sucesso, mas também pela espetacularidade da cenografia. Hoje é exigida uma maior ginástica orçamental aos canais televisivos e a escolha de cenários virtuais permite rentabilizar eficazmente o espaço e o tempo. Mas será que a cenografia convencional está condenada ao desaparecimento?

O recurso aos cenários virtuais conta já com bastantes décadas de uso, especialmente nos Estados Unidos da América. Em Portugal, começaram por ser usados no entretenimento, sobretudo nos formatos humorísticos. Para tal, usa-se uma parede verde ou azul, apelidada de chroma, e coloca-se uma imagem sobre outra através do anulamento dessa cor padrão.

Por norma, as televisões preferem usar uma parede verde, “porque é mais natural que as pessoas vistam peças de roupa azul”. Se acontecesse o contrário, ou seja, se alguém com uma peça de vestuário verde se colocasse à frente de chroma verde, iria gerar-se o que se chama de “rompimento”, em que o cenário virtual é projetado nas próprias roupas, explica ao JPN Eduardo Mesquita, Técnico de Cenografia da RTP-Porto.

Para além do problema de afinação de cor, Sandra Lopes, responsável pela Área de Produção Executiva da RTP-Porto, aponta outras limitações: “Os cabelos têm que ser muito cuidados, um cabelo despenteado rompe a imagem”, assim como “muitos convidados, adereços e até movimento, tudo terá que ser testado para garantir que não existe rompimento”.

Os “contras” de um cenário real

A 28 de setembro de 1996, um incêndio destruiu todo o cenário do Portugal Fashion, assim como parte do Coliseu do Porto, em apenas algumas horas. “No caso do Portugal Fashion, recriámos a escadaria do edifício da Associação Nacional de Jovens Empresários (Anje), usando madeira”, lembra Eduardo Mesquita, cenário que foi utilizado apenas uma vez, já que “na madrugada de sexta para sábado deflagrou o incêndio” e o segundo desfile foi cancelado. Um mês após a fatídica madrugada, o palco do Coliseu do Porto foi recriado no Pavilhão Rosa Mota e retomou-se o desfile, já sem os nomes sonantes da moda.

Os “prós” de um cenário virtual

Apesar destas restrições, aliadas ao elevado custo inicial, o uso do chroma continua a proliferar, em grande parte, graças à sua enorme rentabilização. Construir um cenário real “demorava muito tempo, seria preciso ocupar o espaço durante grandes períodos”, argumenta Eduardo Mesquita, e a mão de obra envolvida no seu desenvolvimento seria mais numerosa do que a equipa necessária para a elaboração de um cenário virtual.

Outro fator de peso é a rapidez na mudança de cenário, como frisa Sandra Lopes: “Podem-se fazer vários programas sem ter um grande tempo de espera, porque, às vezes, mudar um cenário demora horas, os painéis são pesados. Assim, em minuto e meio mudamos dum cenário para outro”.

“O cenário virtual já esteve mais na moda”

Por outro lado, os cenários convencionais permitem uma maior liberdade e, sendo para programas de maior continuidade, “uma boa cenografia real será a nossa escolha”, afirma Sandra Lopes. Quando questionada sobre se o virtual poderia suplantar o cenário real, a responsável pela Área de Produção Executiva é perentória ao afirmar que isso nunca irá acontecer, exceto na Informação, “onde é necessária uma rápida troca de cenários” e, ainda assim, “a mesa continua a ser real”.

“Acho que o cenário virtual já esteve mais na moda”, acrescenta Sandra. “Agora vemos mais uma aposta na mistura de cenários virtuais com cenários reais”, o que permite gravar as partes mais controladas e fixas no primeiro e aquelas mais movimentadas e imprevisíveis no segundo. Assim, é seguro dizer que caminhamos para uma comunhão de técnicas, o que irá, certamente, enriquecer a televisão.