A convenção “O Valor Económico do Mundo Português” que, no início do fim-de-semana, decorreu no Hotel Sheraton, no Porto, debruçou-se sobre o papel que a língua portuguesa pode desempenhar na intermediação de negócios no mundo lusófono. Os oradores presentes nas diferentes palestras do evento (muitos provenientes do Brasil) apontaram defeitos e virtudes do mundo lusófono em termos de negócios, e perspetivaram o futuro.

A abertura coube a Paulo Nunes de Almeida, presidente da Fundação da Associação Empresarial de Portugal (AEP), que começou por referir que “os negócios também se fazem unindo interesses e culturas”. No entanto, na lusofonia os negócios nem sempre são fáceis, já que “as trocas entre Portugal e Brasil podem ser complicadas”. De resto, esta foi uma questão que acompanhou toda a convenção, tanto do lado português como do lado brasileiro.

“É difícil entender o porquê das barreiras alfandegárias no Brasil”, disse João Rafael Koehler, presidente da direção da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE). Também Rodrigo Paolilo, presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (CONAJE) do Brasil abordou este aspeto, salientando os “problemas de corrupção” que provêm da “questão tributária, que é custosa e trabalhosa”.

“O mundo gosta de nós”

António Souza-Cardoso, presidente da Associação para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade (AGAVI), diz que os portugueses “não podem falar apenas de onde andaram”, mas construir “um mundo português muito maior”. Algo personificado por Ricardo Diniz, que se apresentou como “navegador solitário”. Já velejou sozinho de Portugal para Inglaterra, Senegal e o próximo destino é o Brasil. Diniz reforçou o caráter de intercâmbio que a língua portuguesa proporciona, incentivando os portugueses a divulgar a imagem de Portugal lá fora, porque “o mundo gosta de nós, respeita-nos e respeita o nosso passado”.

Paolilo queixou-se também de que no Brasil “não existe uma política integrada de acesso ao mercado e que incentive a indústria”, algo que dificulta o investimento a quem vem de fora. O também brasileiro Marcos Nascimento, diretor da Associação Comercial de São Paulo e da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo, resumiu o problema: “A relação comercial entre Portugal e Brasil é muito pequena”.

Para inverter este défice de relações comerciais, Marcos Nascimento diz ser preciso que “as pequenas e médias empresas tenham apoio” e que “os políticos têm de ter uma ação mais pró-ativa”, de forma a que se aproveite “o melhor de dois mundos”. Já Luís Valente de Oliveira, da Fundação AEP, referiu que “a maior riqueza são as pessoas”, em contraste com a materialidade dos recursos naturais, cuja “utilidade se deve questionar”.

Ainda assim, José Vital Morgado, representante da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), afirmou que Portugal “duplicou vendas para o Brasil nos últimos cinco anos”, sendo que a maioria destas vendas “vêm do setor dos serviços”. Vital Morgado referiu também o impacto que os brasileiros têm em Portugal, dando o exemplo do investimento da Embraer (empresa aeronáutica brasileira que tem instalações em Évora) e dos mais de 400 mil turistas que visitam Portugal todos os anos.

Mas não só de relações entre Portugal e Brasil se falou nesta convenção. Também Angola esteve presente. António de Sousa Magalhães, membro da direção e da comissão executiva da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal-Angola, apresentou vários fatores decisivos para quem quer investir na ex-colónia portuguesa. Apesar de se ter recusado a falar de questões políticas, não se coibiu de dizer que “quem sofre com eventuais problemas são as empresas portuguesas e os portugueses” empregados em Angola. Magalhães salientou a importância de se “perceber as motivações dos angolanos”, ao mesmo tempo que falava sobre a adaptação que as empresas têm de ter à realidade local, respeitando-a.

Da parte do Governo português, esteve presente o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Luís Campos Ferreira. O responsável pela pasta em questão não se limitou a falar em fazer negócios onde se fala português, “mas também onde há portugueses”, ao mesmo tempo que salientava o papel da política externa nacional, que deve “estabelecer parcerias entre setor privado português e estrangeiro”, através de uma “rede diplomática empenhada em estabelecer centros de negócios”.