A vossa iniciativa começou numa aula da disciplina de “Área de Projeto”, como é que a desenvolveram?

A ideia foi lançada e a professora ficou do género “Vocês querem estar um ano inteiro a dar abraços?”. Tivemos de lhe explicar tudo, começámos a trabalhar e fomos desenvolvendo. O grupo, no início, tinha quatro pessoas, acabou por ficar só eu e o Nuno. Trabalhamos bem, o Nuno é uma pessoa que me compreende: eu não consigo estar quieto e o Nuno é tão louco como eu. Quando é para fazer uma coisa, lutamos por aquilo.

Que mensagem é que pretendiam transmitir inicialmente com este projeto?

No início foi só para testar, para saber como é que era. Mas a principal mensagem, se calhar, era para as pessoas nunca desistirem dos sonhos delas. Gandhi disse: “You must be the change you wish to see in the world [Tu deves ser a mudança que queres ver no Mundo]”, e é mesmo isso. Se tu não te mexeres, ninguém se vai mexer por ti, não estou a dizer que vais mudar o mundo sozinho, mas consegues mexer um bocadinho.

Qual foi a situação mais caricata que já passou ao dar um abraço?

Nós já fomos a lares, na altura do Natal, lá em Famalicão, e uma vez estava uma senhora deitada numa cama e nós chegamos lá e dissemos «boa tarde, nós queremos oferecer-lhe um abraço» e ela «querem dar-me um abraço para quê?», e nós «sei que não devíamos vir só nesta altura, no Natal, mas é a oportunidade que temos e viemos desejar-lhe as melhoras», e ela «vocês não precisam de estar a fazer isto. O meu neto tem a vossa idade e não vem cá visitar-me e vocês que eu não conheço vêm-me dar um abraço..». Depois ela começou a chorar, não é, claro que emociona. Nunca pensei que a receptividade dos idosos fosse tão grande mas quem precisa realmente são eles. É muito gratificante, para qualquer pessoa.

Qual é a reação das pessoas quando vocês as abraçam?

Primeiro, as que são abraçadas ficam contentes… Ficam sentidas, percebes? Noto sempre que as pessoas ficam sentidas. Muda completamente o dia delas…

E a imagem das pessoas não importa, mas sim a partilha que existe naquele momento…?

Nós já chegamos a dizer isso. O nosso projeto é mesmo para toda a gente. Tanta gente que abraço… até sem-abrigos. Ninguém está à espera.

Nós sabemos que já faz isto há algum tempo. Os abraços que ainda dá, continuam a ter o mesmo significado e intensidade do início ou é só mais um?

“Todos os abraços são diferentes”

Todos os abraços são diferentes. O abraço não é uma coisa que só dás, tu dás e recebes e o que tem de especial é isso. Há abraços que têm uma intensidade igual ou superior àquele que tu dás. Imagina, nós fomos a Espinho e estava lá um rapaz a trabalhar nas obras e veio a correr e deu-nos um abraço e um abraço dura normalmente 3 ou 4 segundos e largamos e ele «o que é que estás a fazer? Continua!». Foi um abraço mesmo intenso. Nos abraços tu notas quem precisa e quem não precisa. Os abraços que eu dou são iguais aos do início, eu quero é que as pessoas sintam o que eu sinto.

Vocês agora têm merchandising. Como é que investem os lucros?

Nós neste projeto trabalhámos sem dinheiro, nós não ganhamos nada, as t-shirts que nós vendemos, é tudo para as deslocações.

E que ideias é que tens para o futuro?

Um dos objetivos, não sei se vai ser viável ou não, era irmos a Cabo Verde. Íamos lá uma semana ou duas fazer ações de voluntariado, dar palestras e espalhar lá o projeto.

Por fim, como é que te sentes quando recebes um abraço?

Eu gosto de dar abraços. Eu posso sentir mil e uma coisas num abraço. Eu já senti de tudo. Já fiquei extasiado, já fiquei muito alegre, já senti a dor que a pessoa estava a sentir. Se tu deres o máximo de ti em tudo o que fazes, nunca te podes queixar. Na campanha dos abraços eu dou o máximo de mim, eu estou-me a dar às pessoas.