Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.

A Química Nos Sabonetes Do Mirró

Sofia Gomes tem vinte e sete anos e é um exemplo de alguém que tomou o antigo e o transformou em inovação. Residente no Porto, já frequentou o curso de Engenharia Química e o de Comunicação e Marketing. No entanto, é na cozinha da sua casa, como produtora dos Sabonetes do Mirró, que se sente concretizada.

Já imaginou um futuro como “rato de laboratório” mas viu alterados os seus planos e, depois de um workshop de sabonetes de glicerina e faz agora da arte de fazer sabão a sua vida. Os conhecimentos que adquiriu em Engenharia Química funcionaram como base na confeção dos sabonetes que, aliados a técnicas que aprendeu posteriormente, a ajudaram a criar aquilo que hoje produz. Já as bases em Marketing e Comunicação permitiram-lhe a criação e o desenvolvimento do seu próprio negócio.

Para já ainda está no início, mas não quer ficar por aqui. Sofia gostava de fazer chegar este “bichinho” a mais pessoas e, para isso, ambiciona agendar os seus próprios workshops, no qual será a formadora. Isto, porque considera que cada vez mais pessoas começam a gostar destas áreas e, em Portugal, são poucos os sítios que apostam neste tipo de formação. Num futuro mais longínquo, Sofia também põe como hipótese fazer uma licenciatura em Cosmetologia.

A principal inspiração de Sofia é a culinária. Desde sempre ligada a esta área, não só pelo pai que trabalhava na área da restauração mas também pela mãe que tinha um gosto especial pela confeção de sobremesas, a antiga estudante de Engenharia Química considera que fazer sabão é como cozinhar. E foi este carinho pela culinária que levou Sofia a marcar pela diferença, já que os sabões que produz têm tudo menos o formato habitual. Querendo fugir ao estereótipo, avançou com a ideia do “sabonete cupcake”, que apresenta uma forma tão idêntica ao famoso bolo que quase deixa o cliente com “água na boca”.

Alfaiataria através das gerações

O Revivalismo

Existem muitas definições para este movimento revivalista, como aquela que podemos encontrar no Dicionário da Língua Portuguesa: “Tendência para recordar com admiração certas coisas do passado e querer realizá-las de novo no presente”. Paula Guerra, socióloga, procura compreender este fenómenos e refere que este fenómeno está diretamente relacionado com a necessidade das pessoas terem âncoras estáveis. Perante a banalização contemporânea, essas âncoras podem estar no passado. A afirmação “o passado é um país diferente” está cada vez mais atual e verdadeira, uma vez que a distância face ao passado opera cada vez mais nas pessoas. Paula Guerra garante ainda que o Revivalismo veio para ficar, principalmente enquanto os principais consumidores forem os filhos e netos dessa época.

É no atelier que se situa na Praça Dona Filipa de Lencastre, no Porto, que Ayres Gonçalo exerce a arte de alfaiataria que foi aprendendo a amar desde pequeno. Crescido no seio de uma família tradicional de alfaiates, teve no avô, Ayres Carneiro da Silva – considerado um dos melhores alfaiates portugueses – a maior inspiração.

Em 2004, com vinte e três anos, decidiu partir numa aventura pelo estrangeiro para aprender mais sobre alfaiataria. A primeira paragem foi em Madrid, onde tirou um curso sobre corte na Sociedad de Sastres de España para melhorar a sua técnica. Dois anos depois, rumo à capital britânica, trabalhou em Savile Row, a famosa rua londrina onde se encontram alguns dos mais prestigiados alfaiates do mundo.

Ainda em Londres, viveu um dos momentos mais importantes da sua carreira: fez um fato para o Príncipe Carlos. “Já contei essa história mil e uma vezes e posso contar mais mil e uma. Sei que vou ter oitenta anos e ainda vou contar essa história”, diz.”Recordo-me que quando o vi pela primeira vez, as minhas mãos tremiam”, garante.

Em 2010, seguiu para Nova Iorque onde reforçou a sua experiência e ainda conquistou a oportunidade de trabalhar em Hong Kong. “Um dia numa viagem, no ar, decidi que estava na altura de parar esta aventura para regressar ao meu país e iniciar uma nova aventura”, recorda. “A minha ideia sempre foi aprender fora do país para aplicar dentro do país”.

Voltou ao Porto e abriu o atelier, onde a clientela é totalmente diferente do que costumava ser. “Antigamente não havia pronto-a-vestir e toda a gente ia ao alfaiate”, lembra. Com o passar do tempo, a escassez destes profissionais fez com que se desse mais valor à profissão e só uma elite se manteve como cliente.

Ayres Gonçalo foi criando o percurso profissional à sua maneira, apesar de nem sempre acreditarem nele. “Fui a única pessoa da família que seguiu a arte do meu avô. Ele dizia-me que não era para mim, que não ia conseguir, mas a minha vontade era imensa e a melhor coisa que fiz foi ter saído do país na altura certa”. Hoje em dia, o avô sente um grande orgulho no ofício do neto e é presença assídua no atelier. “É ele que desbloqueia os grandes problemas”, confessa o neto.

Lar doce lar… entre o caos citadino

A “Casinha” está aberta há quase um ano e meio e, localizada na Avenida da Boavista, tem feito jus ao nome: não é um café como outro qualquer mas sim um espaço acolhedor onde o cliente se sente realmente em casa. Este era o objetivo de Renata Henriques e Joaquim Oliveira, a dupla que pôs mãos à obra e que, de um prédio antigo do século XIX, fez surgir um espaço moderno, sem nunca esquecer o traço clássico e arquitetónico original.

Dos cafés quentes e frios, às quiches, aos bolos e até aos gelados artesanais, a dupla reforça que o importante é fazer tudo da forma mais artesanal possível e garantir que os produtos estejam sempre disponíveis ao cliente e às suas rotinas.

Situado na Boavista, uma das zonas mais movimentadas da cidade, Renata afirma mesmo que as pessoas que trabalham perto da “Casinha” entram no espaço e quase esquecem o ambiente caótico que deixam no exterior. Na verdade, quando entramos na “Casinha”, é como se estivéssemos a entrar na casa dos nossos avós. E se o objetivo é deliciarmo-nos com uma fatia de cheesecake ou com as bolachas artesanais de chocolate, podemos ficar pelo café ao lado da cozinha. Mas se o objetivo é descontrair, então podemos continuar pelo corredor e sentarmo-nos no cantinho de leitura. Porém, se o dia é quente e o clima assim o convidar, aproveitar o sol no jardim das traseiras é a opção ideal.

Um Fado Diferente…

A família Bandeirinha já se dedicava ao negócio do fado quando Miguel nasceu. Hoje, com apenas 19 anos, já é fadista há 13. Foi assim que cresceu: entre acordes de guitarra, vozes emocionadas e palavras sentidas, ouvidas nas casas de fado.

Com seis anos, já Miguel dava os primeiros passos nesta “estranha forma de vida”, como o próprio descreveu. Numa das muitas tardes de fado vadio, foi convidado para ir cantar à Alemanha. Aceitou e começou a levar o fado para outros países. Devemos “defender que fado é Portugal” e “se o fado não fosse conhecido através das vozes dos fadistas, nunca seria Património Mundial da Cultura”. diz.

Contudo, Miguel Bandeirinha pretende fazer com que deixe de existir a ideia de que o fado é triste, para que este seja mais facilmente aceite pelos jovens e pelos estrangeiros. Desta premissa, nasceu o projeto “Fado Diferente”. Baseado na raiz tradicional, esta inovação do fado português explora músicas de diferentes línguas, letras nem sempre associadas ao fado e ritmos que desafiam os alicerces deste género musical.

O “Fado Diferente” encosta a guitarra portuguesa e dá lugar ao trompete, à guitarra clássica e ao cajón. Para justificar o sucesso do projeto, o fadista afirma que “a tradição e o contemporâneo têm de andar a par”. Esta é também a máxima do movimento revivalista, ao qual Miguel Bandeirinha considera pertencer. Na procura de uma definição e justificação para este fenómeno, o jovem responde: “é pegar na tradição e acender chamas para que essa tradição não morra”.