São boas notícias portanto para quem gosta de um bom café, desde que a ingestão seja moderada – entre três a quatro chávenas de café por dia. “Para além de não apresentar riscos para a saúde, tem um efeito protetor a nível cardiovascular”, acrescenta a nutricionista Inês Tomada acerca dos benefícios.

O café é considerado um alimento funcional porque nele existe, para além da cafeína, uma série de compostos com propriedades antioxidantes. Trata-se de substâncias como os polifenóis, nomeadamente o ácido cafeico.

Os polifenóis são também importantes no controlo das lipotropinas, ou seja, das gorduras no sangue. “Há trabalhos que demonstram claramente o aumento do colesterol bom no sangue, portanto das lipoproteínas de alta densidade”.

No que toca a café e saúde há uma questão que surge quase de imediato. “Os pacientes perguntam-nos muitas vezes: tenho as tensões elevadas, será que posso tomar café?”. Inês Tomada responde que há que avaliar caso a caso. “De uma forma geral não há uma ligação direta entre o consumo de café e a tensão arterial. Às pessoas com mau controlo da tensão arterial aconselhamos a ingestão de um descafeinado ou então de cafés preparados a partir de espécies com menor concentração de cafeína como a arábica”.

Efeito protetor em várias doenças

Existem de facto muitos mitos à volta do café. Pensou-se, por exemplo, durante muito tempo que o consumo de café era prejudicial ao fígado. “A ingestão moderada do café é hoje considerada um protetor de cirrose hepática, do carcinoma do fígado, dos cancros mais frequentes neste órgão”, elucida a especialista.

Rita Alves, que publicou um estudo sobre o café e a saúde, adianta ainda outras ideias erradas sobre o café. “Diz-se que o café desidrata ou que ‘descalcifica os ossos’. Contudo, os estudos mais recentes mostram que a ligeira perda de água ou cálcio é rapidamente compensada pelo organismo e que, se o consumo for integrado numa dieta saudável, esse efeito não é de todo preocupante”.

Atenção ao açúcar!

Mas nem tudo são rosas numa bebida como o café. Há um “espinho” que adicionamos chamado açúcar com o qual é preciso ter cuidado. “Num expresso: um pacote de açúcar a juntar ao café pode representar 35, 40 quilocalorias… agora dependendo do número de cafés que se toma ao longo do dia isso pode ter contributo em termos energéticos”.

A título de curiosidade, um café sem açúcar tem entre duas a cinco quilocalorias. Não tem propriamente açúcar no sentido de sacarose, mas tem compostos químicos que lhe conferem um sabor doce.

De acordo com Inês Tomada, esta bebida pode ter ação benéfica em doenças como a diabetes mielitus do tipo 2, o Alzheimer e o Parkinson. “Têm saído vários estudos nos últimos anos que concluem que há um efeito protetor no desenvolvimento da diabetes até porque tem efeitos no controlo dos níveis de açúcar no sangue e nos níveis de insulina após as refeições”.

Para quem bebe habitualmente descafeinado, é importante saber que este contém praticamente todas as propriedades do café, a nível de antioxidantes à exceção da cafeína. Contém os compostos polifenóis e um outro grupo de compostos muito importantes: os ácidos clorogénicos. “Estes têm atividade antioxidante, anticancerígena e aumentam a motilidade intestinal, funcionando quase como um laxante natural ao potenciar um maior número movimentos intestinais”, explica a nutricionista.

O café é composto ainda pelos dieterpenos, associados ao aumento do colesterol. Contudo, essas substâncias só passam para a bebida em si se esta for tomada de forma não filtrada, o que hoje em dia raramente acontece. “Utilizamos o filtro de papel, o que faz com os compostos fiquem retidos”.

Café não aconselhado a crianças e adolescentes

À cafeína atribuem-se muitos defeitos. No entanto, só deverá causar problemas acima das 300 mg. Devemos contar também com a ingestão de outras bebidas com cafeína, como o Ice Tea ou as bebidas energéticas. “Quando ingerida acima dos 300 mg pode diminuir a absorção de cálcio a nível intestinal. Em vez de ser absorvido é excretado na urina. Está associada à diminuição da ação de alguns medicamentos”, aponta a nutricionista.

Em pessoas mais sensíveis, este composto pode também associar-se ao aparecimento de enxaquecas.

Apesar de todos os seus benefícios, a nutricionista Inês Tomada não recomenda nem para crianças, nem para adolescentes o consumo desta bebida. Precisamente pela cafeína presente em refrigerantes que as crianças muitas vezes bebem depois do jantar, causando distúrbios de sono. “Só a partir da idade adulta é que o consumo de café pode ser introduzido, porque pelo teor de cafeína que tem está associado a um algum nervosismo, ansiedade, agressividade. E muitas vezes também a falta de apetite em idades que são cruciais em que é necessário promover o crescimento”, sublinha.

No caso de grávidas e lactantes é aconselhado um consumo reduzido de café – dois cafés por dia no máximo. “O café atravessa a barreira placentária e portanto vai ter efeitos no feto e também vai ter efeitos no bebé ao nível do leite materno”.

A investigadora Rita Alves refere ainda outros grupos de pessoas aos quais não é aconselhável o consumo de café: “Indivíduos com gastrite, refluxo gastro-esofágico, anemia, distúrbios do sono, ansiedade, arritmias cardíacas ou hipertensão, devem evitar tomar café ou fazê-lo com precaução e com o conhecimento do seu médico, uma vez que pode ocorrer um agravamento dos sintomas referidos”.