O desemprego, as perdas afetivas e as relações conjugais conflituosas estão a deprimir muitos portugueses.

A médica psiquiatra Adelaide Costa conta que, na sua prática clínica, a precariedade laboral e as dificuldades económicas assumem cada vez mais relevância nos casos de depressão que são diagnosticados.

“As pessoas vivem um contexto de desesperança, apresentando uma extrema dificuldade em projetar as suas vidas no futuro. À perda do sentido de transcendência soma-se a desagregação do tecido comunitário relacional na família e na sociedade. As pessoas vivem insatisfeitas, porque não conseguem estruturar a sua vida, porque não conseguem encontrar o seu sentido”, diz.

Os acontecimentos de vida negativos, como a perda de emprego ou um divórcio, e a falta de suporte social podem ser “precipitantes” deste tipo de depressão, designada por “reativa”.

Segundo a especialista, “potencialmente qualquer pessoa pode deprimir, numa ou outra fase da sua vida”. Mas será que todos temos as mesmas probabilidades de ter uma depressão?

“A predisposição para se desenvolver depressão não é igual em todas as pessoas. O risco de desenvolver esta patologia depende de inúmeros fatores, desde os genéticos aos ambientais”, esclarece.

São considerados fatores de risco a história pessoal ou familiar de depressão (a depressão endógena tem uma forte componente genética), o género feminino, o estado civil (sabe-se que a separação e divórcio podem derivar em depressão), fatores relacionados com a infância (como a perda dos pais) e o baixo suporte social e familiar.

Os sintomas incluem tristeza, inibição, anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), sentimentos de culpa e de menos-valia, perda de motivação, dificuldades cognitivas, fadiga, entre outros.

Conforme sublinha a especialista, a depressão tem “um cariz neurobiológico, assumindo alterações neurobioquímicas e das estruturas cerebrais. Sabe-se que a neurotransmissão das aminas cerebrais, designadamente da noradrenalina, da serotonina e da dopamina, se encontra comprometida”.

Por exemplo, “um indivíduo com baixa neurotransmissão de serotonina, para além de ter um humor deprimido pode apresentar-se mais impulsivo, mais agressivo. Se as alterações são sobretudo ao nível da noradrenalina pode ter o sono muito alterado… Ou ainda uma grande apatia, falta de motivação ou pouca ação quando a dopamina decresce”.

“Não basta tomar o comprimido”

A questão é: como tratar? “O que os antidepressivos fazem é aumentar a neurotransmissão das aminas cerebrais. Tradicionalmente atuam por dois mecanismos: o mais importante, inibindo os autorrecetores cerebrais que normalmente recaptam as aminas num processo de feedback negativo; ou bloqueando as enzimas que destroem as aminas”.

As benzodiazepinas, os estabilizadores do humor e os antipsicóticos são outros dos fármacos usados. E há ainda outras formas de tratamento mais invasivas, como por exemplo a eletroconvulsivoterapia, reservada a casos mais graves.

Adelaide Costa alerta, contudo: “Há que intervir do ponto de vista psicoterapêutico, visando a mudança das cognições negativas, dos comportamentos que perpetuam os sintomas, e procurando o reajuste das relações interpessoais”.

A psiquiatra defende também a promoção de comportamentos de saúde (por exemplo, o exercício físico) para “a manutenção de um estado anímico equilibrado”.

“As pessoas vivem em stresse, em ansiedade, correm de um lado para o outro, confundem prioridades, respiram em pleno sufoco. Pouco é o tempo dedicado aos ‘antidepressivos’ que naturalmente nos chegam: o convívio com os que nos são queridos, os momentos de relaxamento, até o dolce fare niente“.

Nas consultas, insiste com os pacientes na “absoluta necessidade de reorganizar os tempos e de otimizar a nossa vida”.

E conclui: “Os nossos antidepressivos naturais não têm efeitos adversos e custam-nos bem menos que os que se vendem nas farmácias, com a vantagem de estarmos a viver em pleno aquilo que significa existir num mundo partilhado com os outros”.