As declarações do presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), tornadas públicas esta terça-feira pelo Correio da Manhã, ditaram, muito provavelmente, a não realização da edição desta ano da Feira do Livro do Porto.

Depois de, há cerca de duas semanas, Paulo Cunha e Silva, vereador da Cultura da Câmara do Porto (CMP) e representante da autarquia nas negociações do evento com a APEL, ter admitido, ao jornal Público, a existência de um “grande processo negocial” em curso e de conversas “bem encaminhadas” entre as partes, que tinham permitido acordar, por exemplo, a prestação de apoio logístico – e não financeiro – da CMP à organização do evento, eis que agora surge uma versão diferente.

Tudo porque João Alvim, presidente da APEL, afirma nunca ter concordado em organizar a Feira do Livro do Porto sem apoio financeiro da autarquia. “Para mim, é novo. É certo que a autarquia nos disse estar com limitações financeiras, mas manifestou-se disponível para assinar um protocolo que, naturalmente, terá compromissos financeiros”, lê-se na edição impressa desta terça-feira do Correio da Manhã.

Déjà vu

A Feira do Livro do Porto realizava-se, ininterruptamente, desde 1930. Apenas em 2013 não decorreu, por falta de acordo entre autarquia e APEL. Agora, tudo aponta para que o cenário se volte a repetir e pelos mesmos motivos.

“Então não há Feira do Livro no Porto”

A verdade é que, durante o período compreendido entre as afirmações de Paulo Cunha e Silva e esta terça-feira, nenhuma fonte da APEL tinha contestado o conteúdo daquelas. Por isso mesmo, a Câmara do Porto emitiu um comunicado em que esclarece que, a 7 de fevereiro, na altura da reunião entre a autarquia e o representante da APEL, tinha “ficado clara a inexistência de contrapartidas financeiras por parte do Município na edição deste ano”.

Por conseguinte, “a 20 de fevereiro passado, o secretário-geral da APEL comunicou por escrito à Câmara Municipal do Porto que iria anunciar oficialmente a data e o local da Feira do Livro no Porto, por ocasião da abertura das inscrições para a Feira do Livro de Lisboa”. Contudo, agora, depois das declarações “surpreendentes”, pode ler-se, de João Alvim, a CMP interrompe as negociações, já que aquelas palavras “representam uma grave quebra de confiança, senão entre as partes, pelo menos entre os representantes mandatados pela APEL para as negociações e o presidente da mesma associação”.

“Nestes termos, a Câmara Municipal do Porto não vê satisfeitas as condições de confiança necessárias para a assinatura de qualquer protocolo com a APEL”, conclui o comunicado. Confrontado pelo jornal Público com este cenário, João Alvim é perentório: “Então não há Feira do Livro no Porto”.

“Deve ter sido qualquer mal-entendido. Eu não estive nas reuniões, mas as pessoas que participaram não estavam mandatadas para aceitar um acordo que não implicasse um apoio financeiro para os próximos anos”, continua o responsável, dizendo ainda que a APEL “faz a Feira do Livro este ano desde que haja um protocolo para vários anos”. “A câmara que nos envie esse protocolo e nós veremos que resposta damos”, finaliza.